Em 2023, as mulheres no Brasil tiveram uma importante vitória na justiça: o Supremo Tribunal Federal, a mais alta instância judiciária do país, derrubou a tese da defesa da honra para crimes de feminicídio - ou seja, para o homicídios cometidos contra mulheres por serem mulheres.
A tese da legítima defesa da honra é historicamente usada no país para justificar o ato cometido pelo réu. É como se um comportamento supostamente inaceitável da vítima, como um adultério, justificasse a conduta de quem a matou.

A professora brasileira Flavia Bellieni Zimmermann, da Universidade de Western Australia: "De uma forma geral, eu diria que a comunidade brasileira na Austrália, na média, é bem conservadora, e as participantes (da pesquisa) são muito críticas de promiscuidade sexual".
Em meio a esta discussão, há uma cientista social brasileira na Austrália que pesquisa o tema dentro da comunidade.
Flavia Bellieni Zimmermann é professora da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Western Australia e acaba de terminar seu doutorado, no qual estudou a questão da honra entre as mulheres brasileiras e paquistanesas a viver na Austrália.
A questão de honra e religião e os impactos nas questões de gênero são calibradas de acordo com a cultura australiana. As brasileiras se sentem com muito mais liberdade de serem quem quiseremFlavia Bellieni Zimmermann
O nome do estudo, traduzido para o português, é "A política da honra e gênero: Como a consciência da honra e da religião influenciam as experiências de gênero vividas por brasileiras e paquistanesas na Austrália".
Segundo a professora Zimmermann, a questão da honra e sua relação com a religião não são pontos adequadamente considerados na prevenção ao feminicídio no Brasil, mesmo que a honra seja um aspecto que influencia de forma significativa as experiências de gênero das mulheres nas relações sociais. E a religião pode ser, em verdade, uma plataforma de empoderamento para estas mulheres.
A partir de sua pesquisa, ela afirma que o conceito de honra tem nuances e não é visto necessariamente como ruim entre as brasileiras que vivem na Austrália, embora esteja claro seu impacto na violência contra a mulher.
O feminismo ocidental vê a religião como altamente opressiva. Mas minhas entrevistas mostram que as religiões podem ser também uma plataforma de empoderamento.Flavia Bellieni Zimmermann.
Nesta conversa com a SBS em português, Flavia Bellieni Zimmermann conta como a questão da honra molda o comportamento das brasileiras, diz que viver longe do Brasil altera a percepção do conceito de muitas elas, e afirma que o cristianismo marca o jeito de pensar mesmo de muitas mulheres que não se consideram religiosas.
Ela também entende que, entre as contribuições de sua pesquisa, está entender melhor o legado da questão da honra na cultura social brasileira, além de dar uma visão de uma mulher sul-americana a uma literatura acadêmica dominada por estudos europeus, que, segundo ela, não consegue entender o papel da religião e da honra na vida das mulheres latino-americanas.
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