Parece que o segredo está em fazer-se as tarefas domésticas a um ritmo acelerado, pelo menos por períodos de 60 segundos seguidos - até ao ponto em que se fica ofegante tal qual um atleta na chegada à meta.
Um recente levado a cabo por uma equipa de investigadores da Universidade de Sydney (Usyd) sugere que um total de quatro a cinco minutos de vigorosa atividade da limpeza doméstica regular é suficiente para reduzir em cerca de %32 os riscos de alguns tipos de cancro.
Um estudo complementar anterior dos mesmos investigadores já tinha mostrado que pequenos exercícios específicos de limpeza da cozinha poderão estar "associados à redução da taxa de mortalidade relacionada a todas as causas de morte incluindo o cancro, até 40%", refere o primeiro estudo.
A segunda experiência científica explorou também a hipótese de uma redução de até 49% nas mortes provocadas por doenças cardiovasculares.
O contexto do estudo
A maioria das pessoas com 40 anos (ou mais) não pratica desporto nenhum regular e consistentes. Mas são exatamente estas as pessoas que são rápidas a dizer que a 'culpa' de levarem uma vida sedentária não é delas.
A vida moderna é sem dúvida exigente. Nem sempre sobra tempo para aquela caminhada diária ou para aqueles 10 minutos de treino intervalado de alta intensidade no ginásio do bairro.
E é por causa deste ritmo de trabalho e responsabilidade alucinantes que a maioria de nós tem, que a ciência tem vindo cada vez mais a investigar formas de criar tempo e espaço para se fazer exercício suficiente para que tenhamos uma vida saudável e uma esperança de vida prolongada.
Este grupo de investigadores da Universidade de Sydney - universidade que é reconhecida por ser top no ranking da investigação académica na Austrália - tem vindo a desenvolver um projeto ao qual dão o nome de "Vigorous Intermittent Lifestyle Physical Activity" (VILPA), em português "Atividade Física Vigorosa e Intermitente".
O estudo VILPA é essencialmente uma versão do treino intervalado de alta intensidade adaptado às atividades diárias: aspirar a casa, lavar a loiça, passear o cão na rua, limpar os vidros, lavar o carro, transportar as compras de supermercado do carro até casa, etc...
A equipa de investigação
Segundo o chefe de investigação, o Professor Emmanuel Stamatakis, do Charles Perkins Center, "os adultos que não fazem exercício correm maior risco de desenvolver certos tipos de cancro, como sejam o cancro na mama, endométrio ou do cólon".
O VILPA é um pouco como aplicar os princípios do treino intervalado de alta intensidade à sua vida quotidiana, nomeadamente associada às tarefas domésticas regularesExplica o Professor Stamatakis, chefe de investigação deste estudo da Universidade de Sydney
Mas a grande novidade está no facto de que até muito recentemente "o impacto de formas menos estruturadas de atividade física vigorosa não podia ser medido", explica Stamatakis.
Em que consiste este estudo
O que este estudo vem acrescentar é a sua forma de medição inovadora: a equipa de investigação usou dados obtidos a partir de 'tecnologias vestíveis' (dispositivos iguais ou similares a peças de roupa ou equipamentos que se vestem) para rastrear a atividade diária de mais de 22.398 pessoas às quais chamaram de "não praticantes de exercício", durante sete dias seguidos. A média de idade dos participantes da investigação foi de 62 anos.
Os investigadores acompanharam os registos clínicos do grupo de participantes ao longo de praticamente sete anos, com o propósito de monitorizarem a ocorrência de cancro.
A ideia era testar estas sessões de exercício associado a tarefas domésticas na incidência geral de cancro. O grupo de cientistas analisou ainda 13 zonas de cancro associados à atividade física, incluindo o cancro de fígado, pulmão, rim, endométrio, leucemia mielóide, mieloma, colorretal, cabeça e pescoço, bexiga e mama.
Resultados que estão a espantar as comunidades científica, médica e das novas tecnologias
O estudo conclui o seguinte:
- Um mínimo de cerca de 3/4 minutos diários de VILPA foi associado a uma redução de até 18% na incidência de cancro (em comparação com nenhum VILPA)
- 4/5 minutos diários de VILPA foram associados a até 32% de redução na incidência de cancro relacionado à atividade física
- Os ganhos mais acentuados na redução do risco de cancro foram observados em pessoas que fizeram pequenas quantidades de VILPA em comparação com aquelas que não fizeram nada
- Os benefícios continuaram com níveis diários mais altos de VILPA, particularmente para cancros relacionados à atividade física
- A maioria das sessões de exercício (92%) ocorreu em períodos de 60 segundos
Estamos apenas a começar a vislumbrar o potencial da 'tecnologia vestível' para rastrear a atividade física e entender como aspectos inexplorados das nossas vidas afetam a nossa saúde a longo prazo - o potencial na prevenção do cancro e uma série de outros resultados de investigação podem ter um impacto enorme na nossa saúde.Observou o Professor Stamatakis, otimista
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