Mistério sobre o grande apagão ibérico torna-se assunto de segurança nacional

Portuguese parliament debates massive power cut in Portugal

Parlamentares discutem em Lisboa o apagão que afetou Portugal no começo da semana. Source: AAP / MANUEL DE ALMEIDA/EPA

O governo de Portugal, de Espanha, também a Comissão Europeia, uma espécie de supergoverno da Europa, estão a reclamar respostas, através das entidades envolvidas mas também de comissões de auditoria e inquérito. Todos querem saber o porquê do grande apagão de segunda-feira que, já se sabe, matou pessoas, gente que estava em casa com apoio respiratório ligado à corrente, mas que por falta prolongada de energia e sem telefone para pedir apoio, perdeu a vida.


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Peritos ao mais alto nível da rede eléctrica, gestora do sistema de alimentação de energia, trabalham arduamente nestes dias para descobrir, em contra- relógio, o que levou ao zero absoluto, o pior pesadelo que podem encontrar: um sistema completamente desprovido de energia; um cenário de filme que várias gerações de engenheiros apenas tinham enfrentado em simulações.

Há uma caixa preta da energia, como a dos aviões, que contem informação microssegundo a microssegundo sobre tudo o que acontece na rede elétrica. Mas essa caixa preta tem milhares de milhões de dados sobre o que aconteceu naquele minuto entre as 11.32 e as 11.33. é assim que se admite que a explicação do que aconteceu ainda possa demorar.

Entretanto o caso torna-se politico, com o parlamento português, apesar de dissolvido para eleições em 18 de maio, a ter uma reunião de urgência para discutir o caso. Em Espanha, também debate parlamentar com o presidente do governo a repetir que é preciso apurar o que aconteceu. O caso tornou-se tema de defesa e segurança nacional. Vai ter desenvolvimentos.

Voltando aos factos: Nem nos terríveis dias da pandemia da Covid, a sensação de isolamento de cada residente em Portugal, também em Espanha, foi tão total. Às 11h32m desta última segunda-feira quem estava em Portugal como em Espanha ficou totalmente desligado da corrente elétrica.

A energia apagou-se por toda a parte e só começou a voltar, progressivamente, mais de 8 horas depois. Em alguns lugares, só 16 horas depois, com toda a noite em apagão. Houve quem ficasse fechado às escuras dentro de carruagens do metropolitano subitamente imobilizadas em túneis. Houve quem ficasse por várias horas bloqueado em elevadores.

Sem energia, os postos de abastecimento de combustível também ficaram desligados. Viram-se carros parados sem gasolina em estradas e auto-estradas. Carros elétricos também sem recarregarem a bateria. A internet apagou-se. A rede telemóvel foi-se abaixo e fez cair todas as redes sociais. Sem energia também não havia televisão nos ecrãs.

O único meio de comunicação a ligar as pessoas foi a rádio com emissão alimentada por geradores e recebida em velhos transístores a pilhas. A venda de rádios de pilhas disparou logo na primeira hora, os stocks esgotaram por toda a parte.

Toda a Península Ibérica sofreu um apagão generalizado nesta segunda-feira, deixando 60 milhões de pessoas sem eletricidade, internet ou telemóveis durante largas horas.

As causas deste caos sem precedentes, 24 hora depois, ainda não estão esclarecidas. O apagão deixou cenas sem precedentes desde locais próximos, como casas, elevadores e semáforos, a infraestruturas críticas, como sistemas de metro, hospitais, aeroportos e a rede ferroviária, que interromperam completamente o serviço durante todo o dia.

O apagão afetou também as redes telefónicas e de internet, contribuindo para aumentar a ansiedade pública sobre a incapacidade de contactar familiares e aceder a informação no meio de uma interrupção de tráfego e de serviços que será recordada durante muitos anos. É facto que os cidadãos mais uma vez demonstraram a maturidade da sociedade perante crises sem precedentes.

A operadora de rede elétrica informou em comunicado que ocorreu um "apagão nacional de energia" às 11h32, ou seja, uma perda repentina de toda a energia elétrica em Portugal e Espanha. Sobre as causas, a empresa apontou uma "forte oscilação no fluxo de energia da rede", que deitou tudo abaixo na rede elétrica.

O apagão ocorrido na Península Ibérica tornou-se a melhor prova da absoluta dependência do nosso modo de vida da electricidade. A fiabilidade das equipas de emergência em infraestruturas críticas e o espírito cívico dos cidadãos evitaram situações perigosas. Não sabemos quando saberemos todos os pormenores do que aconteceu e, principalmente, como aconteceu.

A confusão vivida por todos os cidadãos, sem exceção, e a perturbação na sua vida quotidiana não têm precedentes desde os primeiros dias da pandemia; A crise elétrica, aliás, junta-se à sucessão de crises agudas deste século. Desta vez, uma boa parte da população do país foi dormir sentindo-se extremamente vulnerável à perda repentina e misteriosa de coisas que consideramos garantidas no dia-a-dia: telemóveis, internet, eletricidade, a capacidade de encher o depósito do veículo.

Resumindo, tudo ficou em espera durante algumas horas. Esta crise elétrica acrescenta uma dose perturbadora e inquietante de mal-estar à incerteza radical dos tempos recentes.

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