O Brasil na visão dos australianos que vivem no país: "Queremos que as coisas voltem ao normal“

Mike Becker says the current political climate in Brazil is 'worrying'.

Mike Becker diz que o Brasil é sua casa e que não vai embora apesar da pandemia. Source: Supplied

Quatro australianos que vivem no Brasil compartilharam suas histórias e sentimentos de frustração e ansiedade enquanto o país luta para conter um dos piores surtos de coronavírus do mundo.


Com mais de 800 mil casos, o Brasil agora tem o segundo maior número de casos de coronavírus do mundo, de acordo com a contagem global da Universidade Johns Hopkins.

A australiana Jenni Milochis, 33 anos, que está em São Paulo há 10 meses foi ao Brasil ensinar inglês. Ela diz que assistir à resposta do governo federal no Brasil é irritante.

“Estamos ficando bastante frustrados. Podemos ver que outros países estão se saindo muito melhor”, disse Jenni Milochis à SBS News.

"Estamos ansiosos para sair de casa, não vemos o sol com frequência. Queremos que as coisas voltem ao normal. Por causa da falta de vitamina D e de ficar em casa o tempo todo, estamos sofrendo de insônia, ou tendo sonhos vívidos, pesadelos, dores de cabeça. Não é bom," disse ela.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, entrou em colisão com os governadores estaduais que impuseram lockdown parcial para tentar achatar a curva do Covid-19 e diminuir o número de infecções diárias.

Bolsonaro participou de vários comícios de apoio à medidas anti-lockdown e instou os brasileiros a continuarem trabalhando para manterem a economia em movimento.

Mike Becker, 44 anos, de Melbourne, mora no Brasil há cinco anos e é casado com uma brasileira.
Jenni Milochis
A australiana Jenni Milochis, 33 anos, vive em São Paulo. Source: supplied/ SBS News
Ele diz que tenta não deixar o caos da política federal no Brasil impactar demais a sua vida cotidiana.

“Eu acho que Bolsonaro é um tolo, a resposta do governo federal tem sido muito bizarra. Eles demitiram dois ministros da saúde, o ministro da Justiça renunciou, o Brasil politicamente é frágil nos melhores tempos, sob o corona ainda é mais preocupante,” disse ele à SBS News.

"Se elas não trabalham, não comem"

Bronwyn Shimmin-Clarke, de Brisbane, disse que, embora a situação seja "preocupante", existem diferenças dependendo da sua classe social.

“Tudo depende dos privilégios que você tem. Estou em um apartamento corporativo, há máscaras, podemos manter distância social, mas daqui podemos ver as favelas à nossa volta, e essas pessoas não têm como manter distanciamento social e não têm a oportunidade de ficar em casa - se elas não trabalham, elas não comem,” disse ela à SBS News.

"Mesmo no Brasil, estou protegida por esses privilégios. Muitas pessoas não podem receber comida à domicílio como eu posso. É muito preocupante ", disse ela.

Ela disse que o mais difícil foi se acostumar com o fluxo constante das sirenes das ambulâncias que passam por seu apartamento em Recife.

"Você está em falando ao telefone e ouve um movimento intenso de ambulâncias. Você ouve os números em ‘milhares’, mas quando ouve as ambulâncias percebe que esses ‘milhares’ são pessoas de verdade”, conta Bronwyn.

"Se [o corona] chegar às favelas, será devastador, tantas pessoas em um espaço tão pequeno, se espalharia como fogo", disse ela.
Voos cancelados

Três dos quatro australianos que conversaram com a SBS decidiram voltar para casa mais cedo, mas voos atrasados, cancelados e caros têm sido um obstáculo.

Jenni Milochis disse que os únicos voos disponíveis para a Austrália este mês estavam à venda por AU$7 mil, só ida, o que ela não podia pagar, mas disse que viu alguns voos mais baratos no mês vem e que vai tentar reservar.

Benjamin O'Hanlon, de uma pequena cidade na região de Gippsland, em Victoria, conta que gastou AU$ 4 mil em vôos que foram cancelados e que não foi reembolsado.

"Tem sido um pouco estressante. Não há opções, a não ser comprar passagens para voos comerciais, eles custam mais e, quando não funcionam, você não recebe seu dinheiro de volta," afirmou.

Ele tem outro voo reservado para os próximos dias e espera que este o leve para casa.

Já Mike Becker diz que o Brasil é sua casa e que não vai embora apesar da pandemia.

"Isso afeta a saúde mental, não saio há seis semanas. Mas a vida continua,” disse ele .


 As pessoas na Austrália devem ficar pelo menos a um metro e meio de distância dos outros. Confira os limites no seu estado ou território para o número máximo de pessoas em encontros e reuniões.

Os testes para o coronavírus estão agora amplamente disponíveis em toda a Austrália.
Se você  tem sintomas de resfriado ou de gripe, organize um teste ligando para o seu médico ou para a Linha Direta Nacional do Coronavírus no número 1800 020 080.

O App COVIDSafe do governo federal, para rastrear o coronavírus, está disponível para baixar na 'app store' do seu telefone.

A SBS traz as últimas informações sobre o COVID-19 para as diversas comunidades na Austrália.

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