Ele, aliás, argumenta que o trunfo para o êxito que está a ter a canção portuguesa para a Eurovisão é a sua simplicidade:
“As pessoas estão rodeadas por confusão na vida e a canção apela à sensibilidade, todos temos um coraçãozinho que deseja o que é simples, genuíno”.
Em conversa com a SBS, Salvador valorizou “a espontaneidade de tudo, o modo como a canção foi escrita, composta e interpretada”.
A autora da canção “Amar pelos Dois” é Luísa Sobral, a irmã dois anos mais velha de Salvador, também ela compositora e intérprete cultivando um modo especial, límpido, para usar a voz.
Salvador gostaria de, em Kiev, interpretar a canção “Amar pelos Dois” em parceria com a irmã, tal como fez em Lisboa depois de ter triunfado no festival português, mas o regulamento não permite o duo, porque foi proposta como canção para um só intérprete.
Nas últimas semanas esteve no ar a possibilidade de ser Luísa a dar voz à canção em Kiev, isto em resultado de problemas de saúde de Salvador.
Tem sido discutida a eventualidade de Salvador ser submetido a um transplante cardíaco para tentar resolver os problemas cardiovasculares que o têm atormentado, mas a estabilidade constatado nos últimos dias leva a crer que possa ser Salvador o intérprete na meia-final de 9 de maio na Ucrânia.
Avisa que é a mãe quem trata tudo o que tem a ver com a roupa: os Sobral funcionam em família, todos com grande afecto.
Salvador, com cabelo comprido apanhado em rabo de cavalo, barba rala, camisa quase sempre por fora das calças, está sempre a sorrir. Mais do que uma vez comentou que se considera “uma das pessoas mais felizes do mundo”.
Nas concorridas bolsas de apostas do festival da Eurovisão, Salvador Sobral aparece no grupo de favoritos.
À SBS ele diz que não está a pensar em ganhar na Eurovisão, o que quer “é que as pessoas sintam a canção, sintam o bonito que ela é”. Fala com carinho da “minha querida canção”.
Confessa que nunca viu uma anterior edição do . Imaginava que o prémio fosse chorudo, sorriu quando soube que o troféu é um microfone de cristal, mas tem a noção da popularidade que é proporcionada pelo festival.
Em Portugal, desde o festival da televisão portuguesa, Salvador Sobral tornou-se um caso. Ele tinha aparecido em 2009 num outro concurso de televisão, o Ídolos. Cantou For Once in my Life, de Stevie Wonder, e depois I Got a Woman, de Ray Charles. O júri elogiou-o mas não foi para ele o prémio do concurso. Salvador comenta que “aquilo não era um programa de música mas de televisão”.
Salvador Sobral não apareceu nos anos seguintes a essa passagem pelo Ídolos. A irmã, Luísa, ela sim, acumulava êxitos a compor e a cantar.
Salvador escolheu ir estudar Psicologia, foi para a vizinha Espanha. Optou por uma escola na ilha de Maiorca, no Mediterrâneo. De dia, tinha aulas, à noite ia tocar para bares de hotel. O jazz foi sempre a sua preferência: Chet Baker, Django Reinhardt, Billie Holiday. Acrescenta sempre Caetano Veloso como influência principal. Agora, junta o nome de uma espanhola, Silvia Perez Cruz.
Nas noites de música em Maiorca, Salvador descobriu que o estudo da Psicologia não era o que lhe interessava: “Quando cheguei à maturidade para decidir, descobri que o que me interessa é a música e a voz”.
Continuou em Espanha, mas foi para uma escola de música, o Taller de Musics, em Barcelona, onde teve treino auditivo e de harmonia.
Em Março deste ano, quando reapareceu em Portugal a cantar “Amar pelos Dois” no Festival da Canção, tornou-se um caso. Teve a nota máxima na maior parte dos 20 júris correspondentes a casa um dos distritos portugueses. Toda a gente se declarou tocada pela sensibilidade doce daquela canção e pela delicadeza de Salvador na interpretação.
Nos comentários nas redes sociais, os elogios multiplicam-se: “A isto se chama deveras ‘respirar música’”, escreve um dos seguidores.
“Quando se reconhece a música da vida, a música aparece em todo e qualquer lugar. És uma alma linda e especial, Salvador Sobral”, escreve uma outra fã.
Mas os comentários não são apenas portugueses. Entre os seguidores, comentam alguns fãs espanhóis, que elogiam a “pura sensibilidade musical” de Salvador.
Miguel Esteves Cardoso, escritor, perito em música e um dos mais reconhecidos cronistas em Portugal escreveu: “Não é de agora a alegria que tenho de ouvir a música de Salvador Sobral. Mas chegou a altura de partilhar esse prazer e esperar que ele atinja o público internacional que merece. A voz dele é límpida e aérea. Tem uma musicalidade irrequieta que se atreve a cantar por cima do canto. Canta como se toda a música dependesse dele. Cada canção é um tudo ou nada.”
Salvador Sobral diz-nos que prepara com muito carinho a participação no Eurofestival, mas o que ele sonha mesmo é “em poder fazer uma tournée pela América do Sul, por países do Sul”.
Naturalmente, também, a Austrália.