O brasileiro campeão de muay thai no centro da rivalidade entre Tailândia e Camboja

Thiago Teixeira veio de favela em São Paulo construiu carreira como atleta e empresário em território tailandês, berço do muay thai. Porém, teve um título internacional cassado depois de erguer no ringue a bandeira do Camboja, país que o acolheu e é ídolo, e afirma ter medo de voltar para seus negócios na Tailândia. Em visita à Austrália, onde veio promover o kun khmer (versão cambojana da arte marcial), Teixeira contou sua história para a SBS em Português.

Pontos principais

• Thiago Teixeira deixou o Brasil para ter uma carreira no muay thai na Tailândia, onde também afirma ter uma academia, restaurante e lojas.
• O lutador fez diversas lutas no Camboja e lá ganhou apoio popular.
• Ao ganhar uma luta da World Muay Thai Organisation (WMO), ergueu bandeira do Camboja no ringue e depois teve o título cassado.
• Ele esteve na Austrália para promover o kun khmer na comunidade cambojana local.

Thiago Teixeira nasceu na periferia de Sâo Paulo, onde tentou ser jogador de futebol enquanto era empacotador em um supermercado da capital paulista.

Porém, graças a um colega, ele acabou virando lutador de muay thai - dos bons.

Thiago Teixeira durante após vencer a luta da WMO na Alemanha, com a bandeira do Camboja no pescoço.

Gostou tanto da arte marcial que dela virou referência, a ponto de tentar - e conseguir - uma carreira bem sucedida na Tailândia, berço da modalidade e onde ela é coisa séria. E isso porque a mãe dele, com muita dificuldade, usou o décimo terceiro salário para lhe pagar a passagem.

Foi a partir de lá que Thiago conquistou o título de várias associações internacionais da modalidade, depois de muito sufoco e aventuras.

Mas esta é a história também de um homem solitário que, adotado pelo carinho do povo do Camboja, onde fazia incursões periódicas para treinar e lutar, acabou envolvido em uma rivalidade histórica entre tailandeses e cambojanos que, acredita ele, lhe custou o título mundial mundial da World Muaythai Organisation (WMO).

Thiago Teixeira em Melbourne, em novembro, onde veio para promover o kun khmer na comunidade cambojana da Austrália.

Depois de vencer a luta na Alemanha contra o inglês Joe Craven, Thiago ergueu a bandeira do Camboja, país de rivalidade extrema com a Tailândia e que tem a sua própria versão do muay thai chamada kun khmer.

Na sequência da luta, a entidade cassou-lhe o título. Em comunicado, afirmou que Thiago Teixeira está banido de todas as atividades futuras da WMO, citando comportamento “politicamente motivado e fundamentalmente antidesportivo”.

Thiago Teixeira posa no Angkor Wat, um dos principais pontos turísticos do Camboja: "Eu treino nas ruas e é como no filme do Rock Balboa, as crianças me seguem, pessoas me oferecem frutas".

A SBS em Português entrou em contato com a WMO para entender melhor os argumentos, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.

Thiago Teixeira esteve na Austrália para promover khun khmer.

Famoso na sua nova terra, onde é tietado nas ruas e se tornou uma espécie de embaixador da modalidade nas diásporas cambojanas pelo mundo.

Por isso Thiago passou o mês de novembro visitando as comunidades do país na Austrália, de onde conversou com a SBS em Português.

Thiago Teixeira e Peter You na Austrália: por iniciativa própria, o cambojano abriu as portas de sua comunidade ao brasileiro naturalizado cidadão do país.

Seu cicerone no país foi um dono de bar cambojano de Melbourne chamado Peter You, que tenta promover uma luta de kun khmer com Thiago Teixeira no ano que vem. You recepcionou o brasileiro em sua casa e com ele viajou até Gold Coast, para promovê-lo na comunidade de cambojanos local.

Thiago ama minha cultura, meu país, e me senti inspirado por ele. Consegui organizar mais de 100 pessoas para vê-lo em Gold Coast.

Peter You, cambojano de Melbourne, que virou cicerone informal de Thiago Teixeira na Austrália.

Nesta entrevista, o brasileiro-cambojano conta sobre sua vida de ídolo em um país completamente diferente, conta ter um nome cambojano dado pelos mandatários do país, e afirma ter sido ameaçado de morte caso voltasse para a Tailândia após a polêmica da luta.

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