Era pra ser a realização de um sonho: depois de quatro anos na Austrália e uma pandemia, a estudante paulistana Giovanna Reis, de 29 anos, lutou para trazer seus pais, que nunca haviam saído do Brasil, para passar um tempo com ela em Down Under.
E assim foi pelo mês de dezembro, com turismo e diversão na família Reis. Até que, no início de janeiro, seu pai descobriu um tumor na bexiga. E o que era um sonho virou um grande perrengue a envolver exames médicos, problemas com o seguro de viagem e uma cirurgia na Austrália.

Giovanna entre o pai Valmir e a mãe Isabela.
Giovanna sempre sonhou em trazer seus pais, Valmir e Isabela Reis, para verem a vida que ela leva na Austrália.
A própria Giovanna conta.
"Meus pais tiveram cinco filhos, sempre trabalharam, nunca nos faltou nada. Mas fazer uma viagem pra fora do país é uma situação complicada. Não teriam esta condição. Então, quando cheguei aqui, eu simplesmente queria que eles vivenciassem o que eu estava vivenciando, um lugar tão bom em que as coisas funcionam. Sempre pensei positivo de que um dia eu conseguiria trazê-los."
E o sonho foi realizado com uma "vaquinha" entre ela e seus quatro irmãos como presente para o pai Valmir e a mãe Isabela, que completaram 60 anos em 2022.
E veio em um momento importante: Valmir perdeu a mãe, a quem era muito apegado, durante o ano.
"A gente se juntou pra conseguir trazer eles aqui pra Austrália", conta Giovanna. "Foi tudo uma surpresa pra eles também. A gente fechou essa viagem pra eles, meus irmãos me ajudaram em relação a passagem e visto, e no período que eles tivessem aqui, três meses, eu acabaria custeando tudo."

Giovanna, Valmir, Isabela e Lucas em Sydney.
Mas o sonho virou pânico quando Valmir, hospedado na casa da filha, notou que havia algo estranho com ele durante a viagem. Ele mesmo conta.
"Um belo dia acordei e fui fazer um xixizinho básico, quando notei que a cor da urina estava vermelha. Fiquei quieto, não falei pra ninguém, mas no próximo xixi aconteceu a mesma coisa, só que com muito mais coisa. Logo depois eu falei com meu genro Lucas, e imediatamente ele me levou ao hospital St. George. Lucas teve que permanecer comigo todo o tempo, pois eu não falo inglês. Após análise dos exames, o médico me disse que eu estava com um possível tumor na bexiga e que precisava realizar uma biópsia, pra saber se era benigno ou maligno."
Os exames revelaram um tumor maligno de sete centímetros na bexiga de Valmir. A viagem de férias virou outra coisa.
A apreensão tomou conta.
"Por alguns dias, não vou negar, fiquei muito pensativo e preocupado", conta Valmir.
"Imediatamente comecei a anotar números de conta corrente, investimentos e outras coisas mais importantes para deixar com minha esposa, pois, a partir dali, não sabia o que poderia acontecer".
Giovanna sentiu o golpe.
"Fiquei totalmente desnorteada, não conseguia parar de chorar, de imaginar o que estava acontecendo, por que estava acontecendo tudo isso. Era pra ser uma experiência incrível. Como que eu iria ajudar meu pai? Como iria proceder financeiramente? Meus irmãos não conseguiriam ajudar porque tinham acabado de pagar essa viagem pra eles. Todo mundo muito apertado. E eu na verdade só queria que meu pai ficasse bem logo. A gente sabe o que o câncer ocasiona, como a pessoa fica durante o tratamento. Minha cabeça foi à mil, não sei nem descrever como me sentia. Meu mundo caiu."
O seguro travou, mas os brasileiros ajudaram.
Junto do diagnóstico, o médico australiano já marcou uma cirurgia. E como se a vida já não estivesse difícil o suficiente, Giovanna Reis conta que o seguro-viagem emperrou.
"Eles fizeram o seguro-viagem, e meu namorado acionou o seguro. E o seguro foi uma enrolação, demorava pra responder, a gente só conseguiria fazer a cirurgia se eles arcassem com o custo, porque tava fora de cogitação financeiramente pra gente... "
"E aí a gente ficou nesta luta com o seguro, até que falaram que iriam arcar com essa cirurgia, todo o processo até a biópsia. Mas na hora de fazer a cirurgia, a gente teve que pagar… enfim, outra coisa que mexeu psicologicamente com a gente. Foi essa bagunça toda, a gente acabou arcando com grande parte dos gastos do processo."
A cirurgia de Valmir foi bem sucedida, mas, para arcar com os custos do tratamento, Giovanna organizou uma "vaquinha" entre brasileiros. E Valmir e Isabela passaram a vender marmitas para vender entre a comunidade.

Giovanna e o pai Valmir.
A arrecadação não chegou ao valor necessário para iniciar o tratamento em Sydney, mas ajudou no tratamento que se seguiria no Brasil.
De volta ao país, Valmir está fazendo uma parte dos procedimentos com médico particular, mas aguarda ainda uma vaga com um cirurgião no SUS. Porém, ele ainda está convivendo com a morosidade do sistema.
"A indicação do médico australiano seria que eu inciasse o tratamento em quatro ou seis semanas a partir do dia 11 de janeiro, ou seja, em 26 de fevereiro, no máximo. Somente em 29 de março a UBS me avisou que conseguiram agendar com o urologista-cirurgião, por intermédio do SUS, para falar comigo no dia 2 de maio. E nem sabemos ainda o dia para realizar este RTU (ressecção transuretral de próstata), e muito menos para iniciar este tratamento... Sendo assim, estamos reunindo condições financeiras para realizar o procedimento com médico particular, e veremos como será o tratamento."
Gratidão à comunidade.
Toda a família é muito grata aos brasileiros que ajudaram na "vaquinha" no momento em que mais precisavam.
"Eu só tenho a agradecer a todos que participaram e contribuíram de alguma forma", diz Valmir. "Espero um dia agradecê-los pessoalmente. A campanha não cobriu o valor total, mas ajudou e muito, boa parte conseguimos com ela."
"O que eu tenho para dizer que a comunidade brasileira na Austrália é muito grande e muito forte, eles se ajudam em qualquer situação. Digo isso pois eu sou a prova disso. Gratidão."Valmir Reis.
Valmir Reis não vê a hora de terminar o tratamento para voltar à Austrália. E já fez uma encomenda nada trivial para Giovanna.
"Eu espero um dia voltar 'à Austrália para ver minha filha e meu genro novamente, e quem sabe o meu netinho (risadas), bm como todos os meus amigos que por lá fiz e deixei."
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