Ele nasceu na periferia de Recife e começou a tocar piano na igreja que frequentava com os pais.
Na infância ele não tinha piano.
“Minha música representa o que me foi negado quando cresci na periferia (de Recife). Mas de certa forma, eu já sentia dentro de mim a conexão com minhas raízes. de forma melódica. Ninguém me ensinou a tocar assim. Mas acho que já havia um percussionista dentro de mim."
Apesar da falta das circunstâncias difíceis, sua paixão pela música nunca morreu.
“É muito difícil viver de música instrumental no Brasil. Viver de música instrumental no Nordeste é ainda mais difícil. Sempre acreditei que a música poderia transformar minha vida e tive sorte de encontrar pessoas que me ajudaram. Tinha 15 anos, fui aceito no Conservatório Pernambucano de Música, mas meus pais não tinham condições de pagar a mensalidade.
"Na época, ganhei um DVD do Chick Corea Trio, Chick Corea é um grande pianista dos Estados Unidos . Assisti e fiquei emocionado com a música. E disse: 'meu Deus, quero fazer isso'. Minhas influências musicais já estavam tocando em grandes festivais de jazz ao redor do mundo, como Montreal e NorthEast Jazz. Eu olhava para tudo isso e dizia para mim mesmo: 'um dia será a minha vez, e aqui estou', diz.

O pernambucano Amaro Freitas: "Toco piano preparado, uma técnica que foi criada por John Cage. Coloco algumas coisas dentro do piano para alterar seu som, como jogo de dominó, prendedor de roupa, sementes, fita. E venho durante um tempo dessa pesquisa para criar estes sons que não são convencionais deste instrumento".
Sorte de quem vive em Sydney, que poderá vê-lo tocar no Sydney Festival este fim de semana.
Amaro Freitas se apresenta no The Neilson, no Walsh Bay Arts Precint, nesta sexta-feira 12 às 15 horas, sábado 13 também às 15h horas, e no domingo 14, às 11 horas da manhã.
Na quinta-feira, ele conversou com a TV SBS, com auxílio da SBS em Português.
Amaro Freitas ressalta levar adiante uma música brasileira diferente dos habituais samba e bossa nova.
O jazz que faço tem uma mistura poderosa com a música brasileira, mas não com a qual o mundo está acostumado. Eu penso no Brasil a partir da relação que a gente tem com o nosso território, com a cultura indígena, a afro, e linguagens que vêm do rio, da floresta amazônica.Amaro Freitas
“O jazz que toco é uma mistura poderosa de música brasileira. Mas não a música brasileira que as pessoas estão acostumadas, como samba, bossa nova. O que toco está ligado à cultura indígena, à cultura afro, aos ritmos do frevo e do maracatu às caboquinhas e também às linguagens que evocam os sons dos rios, da água e da floresta amazônica. É outro tipo de conexão com uma música brasileira na forma mais experimental."
Criado na igreja com formação de piano clássico, Amaro fala sobre como achou seu caminho olhando para dentro e para fora - para dentro de si, em sua ancestralidade, para dentro do Brasil, em seu território, e para fora, nos pianistas de jazz.
Amaro também ressalta que o Brasil insiste em ser uma potência criativa e cultural, apesar das dificuldades de um país, e comenta sobre seu próximo álbum, inspirado na imersão em um povo indígena da Floresta Amazônica.
“Quando toquei pela primeira vez na Amazônia me encantei com a imensidão do rio, com as florestas, com a relação que os indígenas têm com esse lugar. Acho que podemos aprender muito com eles; no mundo em que vivemos agora. Um mundo moderno, movido pela tecnologia, mas ao mesmo tempo um mundo que não cuida de si mesmo, do seu próprio planeta."
O próximo álbum é intitulado 'Y Y', que significa ‘ÁGUA’ no dialeto falado pelo povo indígena Sateré Mawé do Brasil.
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