Brasileiras e o desafio de se tornarem mães via inseminação artificial na Austrália

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Tatiana e esposa Bette com o filho recém-nascido via inseminação artificial.

A SBS em Português conversou com três mulheres brasileiras que se tornaram mães por meio de tratamentos de inseminação artificial. Elas compartilharam suas experiências na busca por doadores de sêmen anônimos via clínicas e em grupos no Facebook - a intenção é que os pais biológicos possam ter contado com as crianças após o nascimento.


Destaques da notícia
  • Carla teve sua primeira filha aos 42 anos após 7 tentativas via inseminação artificial.
  • Tatiana engravidou via inseminação artificial, por meio de um doador de sêmen anônimo.
  • Thais e sua esposa optaram em procurar um doador de esperma não-anônimo para que ambas realizem o sonho de se tornarem mães.
  • A taxa média de sucesso de fertilização in vitro na Austrália é de aproximadamente 33% para mulheres com menos de 35 anos.
Carla teve sua primeira filha aos 42 anos após 7 tentativas via inseminação artificial. Segundo ela, após o casamento, a família e amigos viviam cobrando quando ela e o marido teriam filhos.
Já a Tatiana nos deu esta entrevista ainda grávida no hospital, exatamente um dia antes de dar a luz ao seu filho nascido via inseminação artificial, por meio de um doador de sêmen anônimo.

A Thais, junto com a sua esposa, estão à procura de um casal de homens gays que possa doar sêmen mais de uma vez. O plano é que cada uma delas tenha a oportunidade de engravidar.

O casal também considera passar por uma nova gestação como surrogate (ou “barriga de aluguel”) para um casal de pais gays.

“Não seria um co-parenting, mas sim uma relação de amizade entre as famílias, sempre visando o bem-estar das crianças”, disse Thais.
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Na Austrália, ao completar 18 anos, toda criança nascida via doação de material genético, tem o direito garantido por lei de acessar os dados do doador para possivelmente conhecê-los, caso desejarem. Source: Moment RF / ©fitopardo/Getty Images

Do Brasil à Austrália: a história de Tatiana

A chefe de cozinha brasileira de Sydney Tatiana Albano, 40 anos, é casada com a australiana Bette há 5 anos. Ao decidirem se tornarem mães, elas importaram sêmen de um banco de esperma dos Estados Unidos.

Tatiana conseguiu engravidar logo na segunda tentativa ao fazer inseminação artificial em uma clínica no Brasil.

Juntas, já no primeiro mês de gravidez, elas voltaram para a Austrália, onde fizeram todo o acompanhamento da gestação.
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Tatiana e esposa Bette com filha recém-nascida via inseminação artificial.
Tatiana nos deu esta entrevista internada num hospital de Sydney um dia antes do nascimento do seu filho Benício.

“Mesmo não seguindo os padrões impostos muitas vezes pela sociedade, eu defendo o amor e todas as formas de amar. E casais de mulheres lésbicas também têm o direito de engravidar e constituir uma família, assim como os casais héteros”, disse Tatiana.
Ser um bom pai e uma boa mãe independe da sua orientação sexual ou como esta criança foi gerada, seja por vias naturais, inseminação artificial, doação de esperma, ou fertilização in vitro
Tatyana Albano
A escolha de um doador anônimo via clínica

Em relação ao processo de escolha de um doador, Tatiana contou que foi anônimo e escolhido via um catálogo de uma clínica norte-americana com algumas das suas informações físicas, genéticas e também pessoais.

Segunda ela, neste processo de escolha, elas puderam escolher a cor dos olhos, cor dos cabelos, nacionalidade, profissão e inclusive as características da personalidade do doador.
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Durante a fertilização in vitro, o óvulo é removido dos ovários da mulher e fertilizado com esperma em um laboratório. Source: Moment RF / xia yuan/Getty Images
“A minha esposa é australiana, mas possui descendência asiática, então escolhemos um doador de nacionalidade chinesa para que o bebê pudesse ter características físicas parecidas com as nossas”.

Na Austrália, ao completar 18 anos, toda criança nascida via doação de material genético, tem o direito garantido por lei de acessar os dados do doador para possivelmente conhecê-los, caso desejarem.

Porém, como Tatiana importou o sêmen dos Estados Unidos, a lei do país dá o direito ao doador de escolher ou não revelar os seus dados e, no caso do doador da Tatiana, a escolha foi permanecer anônimo.
Vou dizer a verdade. A educação do nosso filho vai ser uma educação voltada para a transparência e a nossa intenção é que desde muito cedo ele saiba sobre todo o processo. E eu volto a dizer, a base de tudo isso é o amor, a dedicação que você tem com o seu filho, a transparência e a honestidade
Tatyana Albano
Alopecia pós-gravidez

A brasileira Carla Corby, 56 anos, engravidou aos 42 anos de idade, e a sua filha atualmente tem 14 anos.
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Carla tentou engravidar por meios naturais durante 3 anos sem sucesso antes de optar pela fertilização in vitro.
“O meu marido e eu começamos a perceber a pressão familiar e também de amigos sempre nos perguntando em tom de brincadeira: ‘E aí, quando é que vocês vão ter filhos? Quando vêm as crianças?’”, contou Carla.

Após tentar engravidar por meios naturais durante 3 anos sem sucesso, ela e o marido decidiram procurar por um especialista em fertilidade em Sydney e o tratamento escolhido foi o FIV (fertilização in vitro).

No total, foram 7 tentativas até que Carla conseguisse engravidar.
Se eu tiver que descrever, na verdade é como se fosse uma montanha russa, cheio de altos e baixos. O tratamento envolve injeções, coletas de óvulos, transferências de embriões, exames de sangue, e várias consultas todas as semanas
Carla Corby
"Eu ia na clínica às 7 da manhã, antes de ir trabalhar, e durante alguns dias do mês eu tinha que aplicar injeções em mim mesma. Eu fazia no banheiro do trabalho. Às vezes tinha que sair correndo na hora do almoço para fazer exames de ultrassom e ninguém do meu trabalho sabia”, contou Carla.

Segundo o médico de Carla, o estresse pós-traumático fez com que o corpo dela desenvolvesse uma condição autoimune que passou a atacar os folículos do seu couro cabeludo logo após o parto.

“Eu acabei adquirindo alopecia depois da gravidez, e obviamente devido ao tratamento, que é uma doença autoimune que causa perda de cabelo permanentemente. Esta condição geralmente é causada por um trauma emocional”, disse ela.

"Às vezes é difícil você falar sobre este assunto”

Apesar de tudo, Carla diz não se arrepender da sua jornada. Porém, ela disse que teria procurado um especialista em fertilidade mais cedo caso pudesse voltar atrás.

“Eu, pessoalmente, nunca imaginei que teria dificuldade de engravidar, porque sempre ouvi dos meus médicos que eu era muito fértil. Eu acho importante você buscar informações o máximo possível. Escutar os médicos, mas também fazer a sua própria pesquisa.

"As vezes é difícil falar sobre este assunto com pessoas que não passaram pelo mesmo processo. Hoje em dia existem vários grupos no Facebook de pessoas que dividem experiências e que dão conselhos,” conta Carla.

A preferência por um doador conhecido

E foi ao pesquisar que Thais Granado, empresária brasileira de 30 anos, e a sua esposa australiana Whitney, ambas de Austrália Ocidental, descobriram um grupo privado no Facebook chamado .

A partir daí elas decidiram mudar de planos em relação a utilizar os serviços de uma à clínica de inseminação artificial, e optaram em procurar um doador de esperma não-anônimo para que ambas realizem o sonho de se tornarem mães.
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Thais Granado (esq.) e sua esposa Whitney.
“Anteriormente, no passado, a gente não queria que as crianças tivessem contato com o doador, com o pai biológico. Mas quando a gente entra neste mundo, a gente acaba pesquisando e outras opções aparecem.

"Minha esposa, que adora pesquisar, acabou lendo que as crianças nascidas através de doadores anônimos, via clínicas de inseminação, acabam sentindo falta de terem uma relação próxima com os seus pais biológicos e até mesmo de conhecê-los pessoalmente ainda na infância, e não somente após os 18 anos”, disse Thais.

Inseminação artificial caseira

Segundo o criador do grupo Sperm Donation Australia, o australiano Adam Hooper, mais de três mil crianças já foram geradas nos mais de 8 anos de existência do grupo privado, que conecta doadores não-anônimos diretamente com casais de mulheres lésbicas, casais héteros e mulheres que desejam uma gravidez sola.
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Grupo no Facebook tem mais de 16 mil membros e conecta homens e mulheres que procuram ou oferecem doações de esperma.
O que poucas pessoas sabem, porém, é que as doações não precisam do intermédio de uma clínica, pois podem ser feitas em casa via inseminação artificial, ou até mesmo via inseminação natural caso ambos concordem em terem uma relação sexual consensual.

“Desta forma, o doador viria até a minha casa, ou antes de ele vir, ele precisa ejacular em um recipiente próprio para isso, com um kit que qualquer pessoa pode comprar na internet. E depois que o esperma é devidamente coletado, eu e a minha esposa podemos fazer a inseminação sozinhas", explica Thais.
Na nossa opinião, este é um processo mais especial, mais humanizado, e mais íntimo do que comparado em como seria em uma clínica médica, o que é um ponto bem positivo
Thais Granado
Taxa de reprodução

Segundo o doutor Alex Polyakov, professor adjunto da Universidade de Melbourne e especialista no centro de fertilidade , os tratamentos de fertilização in vitro não são uma garantia de gravidez, já que este é um procedimento médico complexo.
“A taxa de sucesso dos tratamentos de fertilização in vitro varia de acordo com vários fatores, como idade, condições médicas subjacentes e a causa da infertilidade. A taxa média de sucesso de um ciclo na Austrália é de aproximadamente 33% para mulheres com menos de 35 anos. Já para as mulheres entre 35 até 39 anos esta taxa cai para 27%, e para as mulheres com mais de 40 anos esta taxa de sucesso é de aproximadamente 13%", revelou Alex.

É importante entender as taxas de sucesso e possíveis riscos envolvidos. Também é crucial encontrar uma clínica de fertilidade experiente que possa oferecer atendimento personalizado e suporte durante todo o processo. Além disso, é importante ter expectativas realistas e entender que os tratamentos de fertilização in vitro nem sempre resultam em uma gravidez bem-sucedida
Doutor Alex Polyakov, professor adjunto da Universidade de Melbourne.
*Reportagem: Felippe Canalle
*Produção online: Jason Mathias

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