A inspiração de Michelangelo para os Cardeais no Conclave

ITALY -  SEDE VANCANTE- SETTING UP THE SISTINE CHAPEL AT THE VATICAN  - 2025/5/6

Itália, Roma, Vaticano, 06/05/2025. Sede Vacante – Preparativos na Capela Sistina no Vaticano. Source: SIPA USA / VATICAN MEDIA / ipa-agency.net/Vatican MediaIPA/Sipa USA

A prodigiosa Capela Sistina está por estes dias – e desde há uma semana – isolada para uso exclusivo dos cardeais eleitores. Mas nós podemos mover-nos a contemplar o deslumbramento daquelas personagens bíblicas que cobrem as 4 paredes e a abóbada (o teto) pintadas por mestres e génios do renascimento.


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A visita, com toda a minúcia de observação, pode acontecer já de seguida, ou em qualquer dia – é a visita virtual através da web da Santa Sé ou dos museues vaticanos.

Entremos num aperitivo à visita com o conclave como pretexto. Sabemos que os 133 cardeais reunidos no coração da cristandade católica para o conclave mais concorrido e mais planetário de sempre ficam – conforme o preceito – isolados do mundo a partir do momento, do ritual extra omnes. Em que apenas ficam a comunicar entre eles (e com um muito reduzido grupo e pessoas de apoio também comprometidas com o juramento de sigilo) – o momento solene em que começam as sessões para que germine - em votações - a escolha do papa que vai suceder a Francisco.

Também sabemos que tudo o que lá ocorre, ou seja, na Capela Sistina, onde se chega após subir escadas várias, e percorrer corredores de mármore que são galerias a abarrotar de pinturas e esculturas dentro do labirinto que são os museus vaticanos.

A Capela Sistina – assim chamada porque o Papa Sisto 4º em 1471 – quis que a antiga Capella Magna fosse transformada nesta que tem o nome dele, lugar supremo de maravilhas de beleza e da plenitude da igreja católica. Portanto, a Capela Sistina – lugar sagrado ou da criação artística – conforme a intenção religiosa ou estética – podem juntar-se as duas naquele lugar sublime.

Michelangelo Buonarroti – temo-lo na eternidade como Miguel Ângelo – foi o último e o mais prodigioso a conduzir a transformação das quatro paredes e o teto daquela capela, numa jóia magnifica do renascimento. Mas antes de Miguel Ângelo, a tarefa criadora já tinha começado com outros génios florentinos – Boticelli, Ghirlandaio, Perugino e Rosselli, que se mudaram para o Vaticano com as oficinas deles, e começaram a criar aquele deslumbramento.

Os cardeais no conclave vão estar lá dentro da capela, isolados do mundo exterior. Antes de entrarem, suplicaram a inspiração do Espírito Santo, mas não hão-de deixar de contemplar e meditar sobre aquelas centenas de figuras bíblicas pintadas naquelas paredes e naquele teto – que nós também podemos observar na visita virtual.

O mais arquifamoso do conjunto de frescos são os 9 painéis do Génesis que Miguel Ângelo levou para o céu da Capela – mais culminante o quadro da criação – a replicadíssima representação da ponta dos dedos indicadores de Deus e de Adão, prestes a tocarem-se, e que põem quem contempla a meditar que ser humano é o que foi criado. Talvez seja uma interrogação deixada por Miguel Ângelo a conduzir também a reflexão dos cardeais de agora.

As criações de Boticelli, sobretudo a purificação e a tentação de Jesus, também puxam à meditação, mas o que mais deixa a pensar, talvez seja o que vemos atrás do altar. Ao lado dos profetas do Antigo Testamento, surgem cinco figuras femininas: as sibilas, profetisas do mundo pagão. O que é que elas fazem na capela particular do Papa? Não são uma provocação, mas uma abertura.

Miguel Ângelo defendia a unidade entre as diferentes religiões e culturas: o paganismo, o judaísmo, o cristianismo. Ao lado dos profetas do Antigo Testamento, surgem cinco figuras femininas completamente inesperadas: as sibilas, profetisas do mundo pagão consideradas capazes de prever o futuro. O que estão a fazer na capela particular do Papa? Não são uma provocação, mas uma abertura.

Miguel Ângelo cresceu em Florença, onde conheceu as ideias de Pico della Mirandola, o filósofo que defendia a profunda unidade entre as diferentes religiões e culturas: o cristianismo, o paganismo, o judaísmo, e o islamismo. A presença destas sibilas monumentais pode ser hoje convite ao diálogo inter-religioso, uma aproximação à procura da da paz, que vem da escuta do outro.

E depois temos o famosíssimo Juízo Final. Com um autorretrato em modo secundário de Miguel Ângelo. Não glorioso, mas mártir torturado na mão de São Bartolomeu. Como a lembrar que ninguém é pefeito – há vulnerabilidade em todos, o que também está retratado na ascenção ao céu dos bem-aventurados – não ascendem sozinhos - vemos as ajudas mútuas.

Muitos modos de Miguel Ângelo, há 5 seculos talvez a inspirar os cardeais de hoje, com o povo cá fora, abraçado pela grande Praça de São pedro, encimada pelas estátuas de 140 anjos, à espera do momento em que da chaminé da Capela Sistina saia fumo branco.

O povo não deixará de meditar na escultura da barca dos 140 migrantes numa margem da praça. O Papa Francisco quis inaugurá-la em 2019, sempre a chamar para o acolhimento aos migrantes.

E o povo talvez também não deixe de reparar naquele edifício numa esquina do Vaticano – que era para ser um hotel de 5 estrelas – mas que o Papa Francisco quis que fosse centro de acolhimento para sem abrigo, conduzido la comunidade de Santo Egídio.

Quando o fumo branco aparecer, uma curiosidade maior: que nome vai escolher o novo Papa? Esse nome vai dar pistas sobre como ele vai interpretar o papel des Papa. Tudo leva a crer que seja um continuador, Papa do encontro, das periferias, da ecologia, atento ao tema dos abusos, a cuidar também o papel da mulher na igreja. Necessariamente Papa de uma igreja de portas abertas, atento ao que se passa fora das portas do catolicismo. A tentar construir pontes.

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