Todos os cardeais participantes no Conclave, o mais antigo procedimento eleitoral, ao entrarem naquela capela obrigam-se previamente ao juramento de sagrado secretismo sobre tudo o que acontece lá dentro.
É um juramento que também envolve as três pessoas da equipa médica e de enfermagem – com lugar dentro da sala e a partir do momento em que o secretário do Conclave pronuncia as duas palavras do ritual 'Extra omnes', ou seja, todos os outros fora daqui.
Palavras ditas enquanto fechava a última porta da capela sistina que ainda estava aberta
A partir desse momento, os cardeais eleitores ficam fechados à chave isolados do mundo exterior.
Não há telemóveis, não há computadsores – isolamento total – e mesmo quando recolhem aos aposentos – continuam com acessos vedados – até de modo tecnológico, com um inibidor de frequências
Também não têm acesso a jornais, nem a emissões de rádio, televisão ou à internet.
Apenas podem – e devem – falar entre eles desejavelmente – sobre o tema que os reúne e que assenta em 3 questões prévias, primeira – qual é o estado atual do mundo, segunda – estado atual da igreja católica
Terceira – qual é o perfil ideal para ser papa – na realidade do mundo e da igreja católica..
A seguir – escrevem num papel que dobram em 4 o nome do cardeal que lhes parece encaixar nesse perfil.
Quase toda a gente terá ficado a perguntar-se - quem seria aquele sorridente sexagenário que há 12 anos apareceu ao abrirem-se os altos cortinados vermelhos da varanda central da basilica de São Pedro no vaticano.
Depois de pronunciado o 'habemus papa' - sorridente – começou por dizer boa noite.
E logo se apresentou – como o eleito pelos pares – vindo de terras do fim do mundo, que adotava como papa – o nome de francisco – tal como0 o de assis, protetor dos pobres, ninguém imaginava como aquele argentino que passava de Jorge Bergoglio a Francisco.
Seria um revolucionário que em 12 anos abriu portas sem fim, transformou a igreja católica, venceu resistências tenazes e venenosas, abriu portas e janelas e fez entrar ar novo, limpo nos palácios pontifícios e nas igrejas pelo mundo.
Escolheu uma mulher para prefeita de um dicastério – e para além dessa tarefa imensa – impos-se como pregador da paz, empenho constante contra a guerra (Netanyahu é dos raros que não exprimiu um lamento pla morte do papa), apóstolo do diálogo, do afeto, do amor.
É a pessoa que não só dá voz, pratica os evangelhos, sempre valente – a defender os direitos de quem está nas bermas da vida. Todos sabemos que os pobres, todas as vitimas, sempre com respeito pelo outro – o Papa que acolhe, o Papa dos últimos é o pontificado que começou junto dos migrantes e refugiados em Lampedusa e que teve na última visita os detidos numa cadeia de Roma.
Por isso – se impôs – como referência global – para crentes e não crentes.
O impacto (necessariamente afetivo) global do Papa Francisco – está validado pelo numero recorde de pesquisas online (medidas do google trends) de tudo o que nas ultimas 24h possa ter a ver com ele.
Há um não crente que pergunta – como é possível – o Conclave, há 12 anos ter eleito alguém assim tão fora da tradição – uma pessoa devota ao respeito de todos os seres humanos, sempre com modos simples a tocar nas pessoas, fora dos jogos da politica, corajoso na denúncia dos infâmes que fazem as guerras.
Esse ateu Michele Serra, cronista no La Repubblica, pergunta, terá sido um acidente, um equívoco dos cardeais eleitores ou será que a igreja despertou para esta faculdade de escolher – um de facto eleito - intérprete absoluto dos evangelhos?
No próximo mês vamos saber - se esta segunda hipótese passou a valer.
São 135 os cardeais eleitores. Mais de 80%, 107 nomeados pelo Papa Francisco, 23 pelo antecessor Bento XVI, 5 por Joao Paulo 2º, 59 são europeus, 37 de todo o continente americano, 20 da Ásia, 16 da África, 3 da Oceania.
Há especulações abundantes sobre os melhores perfis há quem veja o francês Jean Marc Avellin – como o mais continuador de Francisco – eram muito próximos – Avellin fez do velodrome o estádio de futebol do Marselha, uma catedral para acolher o papa, também os italianos Parolin, Zuppi e Pizzaballa, o filipino Tagle – porque responderia ao disparo do catolicismo na Ásia.
O cardeal português Tolentino de Mendonça é sempre um nome considerado, mas diz-se que ainda é cedo para ele.
São 135 os eleitores – 135 os que podem ser eleitos.
Nas hipóteses alternativas um cardeal de Myanmar, outro do Sri Lanka – também o congolês Ambongo – com simpatias da ala conservador mas convertido à sinodalidade do Papa Francisco.
A ver se o espirito que levou à escolha de Bergoglio continua iluminado
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