Casa em favela no Brasil leva prêmio mundial de arquitetura

Brazilian artist Kdu dos Anjos.

Artista Kdu dos Anjos: "Sei que minha casa não é a mais chique do mundo, mas é um barraco bem construído." Credit: facebook.com/kdudosanjos.oficial

Localizada na comunidade Aglomerado da Serra, uma das maiores favelas de Belo Horizonte, a casa do multiartista Kdu dos Anjos foi a grande campeã do prêmio do Archdaily 2023 - Projeto do Ano, um dos mais importantes da arquitetura mundial.


Resumo da notícia
  • A casa de Kdu dos Anjos é pequena, e fica em uma favela, mas bateu 1600 moradias do mundo todo.
  • Entre as 161 inscrições brasileiras era a única localizada em um aglomerado de favelas.
  • Foi projetada pelo coletivo de arquitetura ‘Levante’ e construída por menos de AU$ 43 mil
  • A casa premiada está localizada na movimentada favela do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, no Brasil.
À primeira vista, é uma casa como milhares de outras nas populosas favelas do Brasil.

Mas esta habitação modesta de 66 metros quadrados, com paredes de tijolo à vista, acaba de ser reconhecida como a "Casa do Ano" num concurso mundial de arquitetura.

A casa escolhida pelo site de arquitetura ArchDaily pertence a Kdu dos Anjos, um artista de 32 anos que mora na movimentada favela do Aglomerado da Serra, ao pé de um morro na periferia de Belo Horizonte.

A estrutura de dois andares venceu 1600 projetos de concursos de casas muito mais sofisticadas na Índia, no México, no Vietnã e na Alemanha.

“Estou muito orgulhoso de minha casa ter ganhado este prêmio, porque a maioria das notícias sobre as favelas fala de violência e casas destruídas por deslizamentos de terra”, disse Kdu nas suas mídias sociais.
'Pura magia'

A casa, construída em um pequeno lote que Kdu comprou em 2017, é bem ventilada e possui luz natural; janelas de batente horizontais e no lugr da laje, comum nas favelas, um terraço coberto e espaçoso.

“O projeto da casa representa um modelo de construção que utiliza materiais comuns nas favelas, com atenção à iluminação e ventilação, resultando em um espaço com grande qualidade ambiental”, escreveu o ArchDaily em seu site.
Para Kdu, que fundou um centro cultural em sua comunidade, o prêmio tem um significado especial.

"Sei que minha casa não é a mais chique do mundo, mas é um barraco bem construído", diz ele com um sorriso.

Kdu mora lá desde 2020, junto com dois cachorros, um gato e mais de 60 plantas.

"O que os arquitetos fizeram é pura magia", disse ele. "Mal temos 66 metros quadrados, mas já fiz festas aqui com quase 200 pessoas," completa.
Um sonho de infância realizado

O projeto é do coletivo de arquitetura Levante, que faz obras pro bono ou a baixo custo nas favelas.

Exteriormente, a casa assemelha-se às suas vizinhas, mas incorpora vários elementos que a tornam mais robusta e em harmonia com o meio ambiente, nomeadamente na "atenção à iluminação e ventilação", disse o arquitecto Fernando Maculan, responsável pelo projecto.

Uma diferença aparente com as casas vizinhas está na disposição dos tijolos, que são colocados horizontalmente - não verticalmente - e em fileiras escalonadas, o que acrescenta solidez e melhora o isolamento.
The Aglomerado da Serra favela in the southeastern city of Belo Horizonte.
A favela Aglomerado da Serra em Belo Horizonte Credit: Cecilia Alvarenga/Getty Images
O projeto levou oito meses para ser completado - e muito trabalho.

"Os pedreiros ficaram bravos porque pensaram que colocar tijolos dessa maneira consumia muito tempo", disse o arquiteto Fernando.

"Tivemos muitos problemas para levar os materiais escada acima - é a última casa do beco e tive que pagar muito aos trabalhadores que a carregavam", disse ele.

As ruas estreitas e sinuosas da favela dificultam a passagem dos veículos.

Todo o trabalho custou R$150 mil (AU$ 43 mil).

Kdu se apaixonou pelo projeto e diz que da favela não sai.
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