Resumo da notícia
- A casa de Kdu dos Anjos é pequena, e fica em uma favela, mas bateu 1600 moradias do mundo todo.
- Entre as 161 inscrições brasileiras era a única localizada em um aglomerado de favelas.
- Foi projetada pelo coletivo de arquitetura ‘Levante’ e construída por menos de AU$ 43 mil
- A casa premiada está localizada na movimentada favela do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, no Brasil.
À primeira vista, é uma casa como milhares de outras nas populosas favelas do Brasil.
Mas esta habitação modesta de 66 metros quadrados, com paredes de tijolo à vista, acaba de ser reconhecida como a "Casa do Ano" num concurso mundial de arquitetura.
A casa escolhida pelo site de arquitetura ArchDaily pertence a Kdu dos Anjos, um artista de 32 anos que mora na movimentada favela do Aglomerado da Serra, ao pé de um morro na periferia de Belo Horizonte.
A estrutura de dois andares venceu 1600 projetos de concursos de casas muito mais sofisticadas na Índia, no México, no Vietnã e na Alemanha.
“Estou muito orgulhoso de minha casa ter ganhado este prêmio, porque a maioria das notícias sobre as favelas fala de violência e casas destruídas por deslizamentos de terra”, disse Kdu nas suas mídias sociais.
'Pura magia'
A casa, construída em um pequeno lote que Kdu comprou em 2017, é bem ventilada e possui luz natural; janelas de batente horizontais e no lugr da laje, comum nas favelas, um terraço coberto e espaçoso.
“O projeto da casa representa um modelo de construção que utiliza materiais comuns nas favelas, com atenção à iluminação e ventilação, resultando em um espaço com grande qualidade ambiental”, escreveu o ArchDaily em seu site.
Para Kdu, que fundou um centro cultural em sua comunidade, o prêmio tem um significado especial.
"Sei que minha casa não é a mais chique do mundo, mas é um barraco bem construído", diz ele com um sorriso.
Kdu mora lá desde 2020, junto com dois cachorros, um gato e mais de 60 plantas.
"O que os arquitetos fizeram é pura magia", disse ele. "Mal temos 66 metros quadrados, mas já fiz festas aqui com quase 200 pessoas," completa.
Um sonho de infância realizado
O projeto é do coletivo de arquitetura Levante, que faz obras pro bono ou a baixo custo nas favelas.
Exteriormente, a casa assemelha-se às suas vizinhas, mas incorpora vários elementos que a tornam mais robusta e em harmonia com o meio ambiente, nomeadamente na "atenção à iluminação e ventilação", disse o arquitecto Fernando Maculan, responsável pelo projecto.
Uma diferença aparente com as casas vizinhas está na disposição dos tijolos, que são colocados horizontalmente - não verticalmente - e em fileiras escalonadas, o que acrescenta solidez e melhora o isolamento.

A favela Aglomerado da Serra em Belo Horizonte Credit: Cecilia Alvarenga/Getty Images
"Os pedreiros ficaram bravos porque pensaram que colocar tijolos dessa maneira consumia muito tempo", disse o arquiteto Fernando.
"Tivemos muitos problemas para levar os materiais escada acima - é a última casa do beco e tive que pagar muito aos trabalhadores que a carregavam", disse ele.
As ruas estreitas e sinuosas da favela dificultam a passagem dos veículos.
Todo o trabalho custou R$150 mil (AU$ 43 mil).
Kdu se apaixonou pelo projeto e diz que da favela não sai.
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