O vírus está a entrar por lugares de populações mais indefesas, de países com sistemas de saúde mais frágeis.
África é uma preocupação máxima.
O Covid-19 já entrou por mais de 30 países africanos, sendo que nas últimas 72 horas entrou por mais três países da lusofonia.
Há o caso que foi importado por Timor e há um primeiro caso, um turista inglês, em Cabo Verde (teme-se que tenha contagiado muitos turistas e residentes locais na ilha da Boa Vista) e há 2 casos em Angola, de dois angolanos que regressaram ao país a partir de Portugal, um na terça-feira e outro na quarta-feira.
Em Cabo Verde, os alarmes dispararam na quinta-feira à noite quando numa das mais frequentadas por turistas das 10 ilhas do arquipélago, Boa Vista, foi validado um caso de um turista portador de coronavírus.
É um inglês, com 62 anos, que chegou à ilha há 9 dias e instalou-se num resort em cima do areal, O RIU.
Há 5 dias começou a ter o que pareciam ser sinais de gripe, mas continuou a ir à praia, a mergulhar na água das piscinas e a participar nos buffets e barbecues.
Na manhã de quinta-feira foi ao médico, que decidiu fazer o teste de despistagem de Covid-19.
Soube-se à noite que estava positivo e de imediato foi ativado o alerta geral no resort e na ilha.
Todas as 850 pessoas em férias naquele resort foram colocadas em quarentena (parece pertinente perguntar: perante uma emergência global como esta, como é possível haver 850 turistas em férias?)
Alerta ativado não só na ilha da Boa Vista, também na do Sal, por onde os turistas habitualmente fazem escala.
Este é o cenário que os epidemiologistas temem: quando o vírus entra, espalha-se por toda a parte.
Há grande temor, a quase certeza, de muitos contágios nestes dias de múltiplos contactos na ilha.
Mais, há pesssoas que nestes dias viajaram para outras ilhas, designadamente S.Vicente (onde está a cidade do Mindelo) e Santiago, que tem a capital, a Cidade da Praia.
Portugal tem várias equipas de investigação sobre doenças infecciosas tropicais, geradas ainda no tempo colonial e entretanto desenvolvidas em projectos de cooperação.
Há equipas, designadamente do Instituto Gulbenkian de Ciência, que estão na liderança mundial do combate à malária (um flagelo muito ignorado pelo mundo rico mas que no ano passado matou 405 mil pessoas em África), também a Ébola, a Zika e até a SIDA.
Porém, perante este novo Covid-19, há o desconhecimento global.
Um investigador português dizia-me há pouco: neste momento há tantas bombas covid em movimento, designadamente no mundo que fala portugvuês, sem que os portadores saibam que o são.
Muitos até poderão passar incólumes, mas apesar disso, contagiarem muita gente.
A esta hora já haverá certamente muita gente contagiada e a continuar a contagiar, mas a pobreza geral e, especificamente, dos sistemas de saúde, leva a que demorem a ser detetados.
O isolamento que passa pelo fecho de fronteiras é, neste momento, a principal arma.
Outro arquipélago da lusofonia, São Tomé e Príncipe, acaba de fechar fronteiras.
As medidas prevêem a proibição de entrada no país de cidadãos estrangeiros; quanto aos nacionais e residentes estrangeiros que regressem ao país, ficarão sujeitos a uma quarentena domiciliária.
As escolas, públicas e privadas, restaurantes e discotecas vão ser ser encerrados.
Estão proibidas as manifestações culturais, religiosas e desportivas.
Ficam impedidos de aterrar no aeroporto os voos charters e acostagem de navios cruzeiros nos portos do arquipélago.
Mas há o temor de que já seja tarde e que já haja portadores que já abriram, claro, sem o saberem, linhas de contágio.
Com a paupérrima e sempre instável Guiné-Bissau passa-se o mesmo: fronteiras fechadas. Mas teme-se que já seja tarde.
Há poucos dias nenhum dos cinco países dos PALOP tinha casos confirmados:
Moçambique, tal como Angola, já está a impor quarentena obrigatória a todos aqueles que venham de regiões afectadas.
Mas ninguém duvida de que já há portadores entre a população.
As aulas estão paradas as fronteiras fechadas, mas o temor é imenso.
África está a aparecer como o continente menos afetado – se excluirmos a Antártida – por este Covid-19, mas há 30 países que já declaram a deteção de infetados.
Como me dizia o já citado perito português em doenças infecciosas tropicais, se o vírus conseguir espalhar-se por África, a calamidade vai ser muito maior.
Está em curso uma operação de guerra.
A prioridade é detetar os casos.
Fazer um bom rastreamento é muito importante, assim como melhorar o controlo nas instalações de cuidados de saúde.
Mas, o mais importante é que a primeira pessoa a apanhar o vírus seja detectada o mais rápido possível para que seja possível proteger essa pessoa e evitar que transmita a outras pessoas.
Este duro combate com o terrível inimigo invísivel impõe-nos, com intransigência, o essencial isolamento social, mas temos de juntar a sensibilidade com a inteligência para garantirmos a ligação social – vital aos mais vulneráveis entre nós.