Festival de forró em Melbourne vai reunir brasileiros e australianos amantes do ritmo

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Apresentação de banda de forró em Melbourne com Leo Rio (à direita, cantando) e Katya Bogatyreva (à direita de Leo, tocando triângulo) entre os integrantes. Source: Supplied

A SBS em Português ouviu o idealizador, o carioca Leo Rio, que se dedica ao forró há 20 anos, e uma das organizadoras, a russa-australiana Katya Bogatyreva: "Eu ouço forró todos os dias, danço uma vez por semana, dou aulas, toco, e aprendi português através do forró".


O forró já chegou aos quatro cantos do mundo, inclusive à Oceania. E não foi só por meio de brasileiros. Pessoas dos mais diversos países se apaixonam, se dedicam, aprendem a música e a dança e ajudam a difundir o ritmo pelo planeta.

Em Melbourne, a russa-australiana Katya Bogatyreva é uma dessas pessoas. O contato com o forró vem de muito tempo, e há cerca de três anos ela dá aulas. Katya vai ser uma das instrutoras de um festival inédito de forró que vai ser realizado em dezembro de 2023 na capital do estado de Victoria.

O Melbourne Forroz Festival vai acontecer de 7 a 10 de dezembro com workshops, apresentações e festas. A SBS em Português conversou com a Katya e com o Leo Rio, idealizador do festival, carioca que tem uma relação com o forró há 20 anos e já difundiu o ritmo pela Europa, onde morou, deu aulas na França e teve até escola de forró na Noruega.

Início da relação com o ritmo

Leo conta que desde pequeno gostava de forró, que conheceu através da avó nordestina, mas que se interessou mais pelo ritmo em uma viagem ao Espírito Santo, quando viu as pessoas dançando forró em um quiosque em frente à praia.

"Ali eu falo que foi meu 'clique' do forró. Quando eu voltei para o Rio de Janeiro, todos os meus amigos já dançavam. Era a época da 'febre' do forró, com Falamansa e outros grupos. E aí eu me engatei no forró, dançando e depois produzindo, e fui levando isso para o mundo comigo", conta Leo.

Leo saiu do Brasil em 2009, e ao chegar no sul da França, começou a atuar como DJ de forró. Depois passou a tocar triângulo, zabumba, montou banda, e quando se mudou para Oslo, na Noruega, viu que a cena do forró por lá estava meio parada, então começou a dar aulas e decidiu abrir uma escola para ensinar quem quisesse aprender a dançar.

Katya, que nasceu na Rússia e se mudou para a Austrália ainda na infância, depois, em 2017, foi morar um tempo na Noruega, quando teve seu primeiro contato com o ritmo brasileiro quando foi a um evento com uma amiga.

"Quando essa amiga me falou que ia ter forró, fui procurar na internet o que era isso, mas digitei 'Foho' e não encontrei nada. Descobri ao vivo o que era aquele ritmo, que a princípio achei confuso".

Depois de conhecer o Leo, que a convidou para um festival de forró em Oslo, Katya então teve um contato mais próximo com o ritmo, e conta que se identificou por causa de algumas similaridades com as músicas que ouvia na infância na Rússia.

"Quando ouvi a música ao vivo, a sanfona, a rabeca e vi todo mundo dançando, senti o amor realmente. Eu nasci em Moldova [Moldávia], onde tinha música cigana, com sanfona e violino. Como o forró tem esses instrumentos, me senti como se estivesse em casa, no meu país", explica Katya.
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Katya e Leo em 2018 na Noruega, onde ela conheceu o ritmo brasileiro e passou a apreciar e a dançar, com o incentivo dele. Source: Supplied
Propósito de ensinar forró

Há três anos dando aulas de forró, Katya diz que ensinar a dança para ela é algo romântico. "Para mim, ensinar é conectar a comunidade. Não ensino para as pessoas me copiarem. Ensino para as pessoas vivenciarem algo mais profundo e para dar algumas ferramentas para eles usarem para fazer amigos e se conectar com outras pessoas".

Katya ressalta que não é dançarina profissional, que não tem formação, e que a conexão é o que realmente a motiva a ensinar forró.

Leo destaca que professores de outros países amam o forró e tem conhecimento para ensinar. "Eles estão lá porque tem motivação, capacidade e bagagem para estar lá".

Ele lembra que para os estrangeiros pode parecer estranho num primeiro momento pelo fato de que o forró se dança "muito junto". "Mas depois que eles compreendem que mesmo assim pode haver respeito e cada um pode ter seu espaço, pois se trata apenas de uma dança, de um momento compartilhado. A partir daí eles se envolvem com a dança, com a música e conhecem outras pessoas. Essa característica de dançar junto é algo muito próprio do forró", explica.

Parte da rotina

Katya diz que o que a fez se interessar pelo forró foi a vontade de conhecer outras culturas, outros estilos musicais. E ela acredita que essa tenha sido a mesma motivação de outros estrangeiros que se ineterssam por ritmos brasileiros, a tal ponto de se tornarem especialistas naquele estilo e o difundirem pelo mundo.

"No momento, alguns dos melhores acordeonistas, sanfoneiros, percussionistas de Melbourne são australianos, tocando forró, samba, maracatu", e faz uma declaração: "Para mim, eu não escolhi amar o forró. Ele meio que me escolheu, pela minha história, onde nasci, como foi criada".

Ela conta que hoje o forró é parte fundamental da sua rotina. "Eu danço pelo menos uma vez por semana, porque tem aula toda terça. Vou a eventos sempre que posso, até mesmo em outras cidades. Eu ouço forró no carro, ele faz parte da minha vida. Eu ensino, toco às vezes, conheço muitas músicas. Muito do português que eu falo é por causa do forró".

Leo, que já atuou em todas as frentes do forró, produzindo eventos, tocando, como DJ, dançando, dando aulas em difrentes países, conta que em Melbourne, onde vive desde 2019, se dedica ao ritmo dando aulas semanais, promovendo encontros entre os "amantes do forró" na cidade e até mesmo em outros estados, fazendo apresentações em eventos privados e públicos.
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Katya e Leo ensinando forró em um evento em Melbourne. Source: Supplied
Festival de forró

Leo agora está preparando, junto com a Katya e várias outras pessoas, e com apoio da Abrisa, Associação Brasileira em Melbourne, o primeiro grande festival de forró na cidade, o "", que será realizado entre os dias 7 e 10 de dezembro de 2023 na capital de Victoria.

"A gente já promovia encontros de um dia no Dia Nacional do Forró [13 de dezembro pela data de nascimento de Luiz Gonzaga] e no ano passado fizemos uma maratona de forró de dois dias, que foi como um aquecimento para o festival deste ano. Serão quatro dias, de quinta a domingo, cada dia com uma banda diferente e workshops com professores de toda a Austrália e atrações internacionais para tocar e cantar no festival", explica Leo.

Sobre o festival que está ajudando a organizar, Katya fala: "Acredito que para que possamos nos entender, precisamos falar mais línguas do que apenas palavras. E esses eventos realmente aproximam as pessoas. Não consigo imaginar não ter esses eventos em Melbourne ou outros lugares onde vivem pessoas dessas culturas. É como uma porta para um mundo diferente. Na minha opinião, é muito importante".

Forró na Austrália

Ao falar da propagação do forró na Austrália, Leo diz que desde que chegou ao país, em 2019, já viu um crescimento no interesse pelo ritmo e no número de pessoas que tocam e dançam forró por aqui.

"Quando cheguei, o interesse era menor e está aumentando. É algo que a gente não vê um boom rápido, mas quando cheguei na Europa o forró estava como está aqui hoje, então acredito que a gente vai chegar no mesmo patamar em que o forró está na Europa está hoje em dia".

E completa: "O forró só traz benefícios. Leva às pessoas o bem estar do momento, estar naquele momento, não pensar em mais nada. Não tem stress. Não tem como você pensar em outra coisa que não seja na dança, na música, naquele instante, se expressar da sua melhor maneira e sentir essa felicidade. As pessoas quando estão dançando forró, estão sorrindo, estão alegres".

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