81 anos de Gilberto Gil e um pouco da história da Música Popular Brasileira

Gilberto Gil

Cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical, Gilberto Gil é um patrimônio vivo cultural do Brasil. Credit: Mauricio Santana/Getty

A sorte que temos. Podemos toda a vida escutá-los a todos. Eles que nos trazem os sons mágicos do Brasil.


Em que a música e a dança são gosto natural da vida – está-lhes nas veias está no corpo marca o modo de caminhar

Criação inspirada dos ritmos trepidantes do samba. À elegância tranquila da revolução bossa-nova.

O poderio da percussão – que fez chegar influencias ao jazz, é música que vem do coração.

E que se junta a textos magníficos, vem de longe – foi em 58 - (e já havia tanto para trás, Dorival Caymmi, João Bosco, Carmen Miranda, Pixinguinha, Ary Barroso)

1958 é ano efervescente em que Tom Jobim e o poeta e diplomata Vinicius de Morais criaram – com harmonia nova – a eterna 'Chega de Saudade'.

Também é Tom Jobim a partilhar a intensa musicalidade de Águas de Março com a voz de puro sangue.

Parece consensual que a melhor cantora do Brasil, uma explosão de emoções e paixão, é Elis Regina.

Passaram 5 ou 6 décadas – e tudo continua a mexer conosco.

Anos 60 são tempos políticos e sociais obscuros no Brasil.

Em 1961 – os militares derrubam o governo de Jango – João Goulart, sucessor do democraticamente eleito Jânio Quadros – um tal castelo branco é o primeiro numa sucessão de generais presidentes da mais de 20 anos de ditadura – até 1985.

São anos de censura e repressão - mas férteis para a criação.

1966 é o ano em que Sergio Mendes populariza a música brasileira pelo mundo com o álbum 'Brasil 66'.

É também em 66 que um compositor e poeta sedutor de olhos verdes, carismático, voz delicada – Chico Buarque de Hollanda depois de irromper com 'Pedro Pedreiro' e 'Morena dos Olhos d'Água', explodem com 'A Banda', a marcha elaborada popular e sofisticada (como tudo que cria) – e que levantou estrondoso sucesso.

Que até incomodou o Chico nada dado a idolatrias.

Mas ele, Chico, nunca mais parou de avançar com arte superior, como a daquele álbum-denúncia em tom dramático 'Construção", de 71, a continuar a avançar violão ao peito, melodias densas, versos virtuosos, em resistência cultural em tempo de boca calada ou repressão. É quando Chico protesta a cantar o 'Cálice, pai afaste de mim esse cálice de vinho tinto de sangue.'

Chico a trilhar sempre caminhos abertos por Tom Jobim, por Vinicius de Morais.

Também temos a sorte de termos para escutar – as gravações dele – o genial João Gilberto, intimista, quase a murmurar aquele desafinado, hino cheio de humor, sutil, contagiante ou em duo maravilhoso com Astrud Gilberto, a filha, voz infinita da 'Garota de Ipanema', ele em português, ela a ecoar plo mundo a versão em inglês.

Na linha direta – depois multifacetada - de João Gilberto temos a felicidade de escutar Caetano com dom extraordinário para entrelaçar a melodia e a palavra – a juntar a vida, a espiritualidade, a política, as artes – a sensualidade da 'tigresa' de unhas negras inspirada em Sonia Braga – o Caetano do clássico Leãozinho, do 'Reconvexo', do 'Diamante Verdadeiro'.

Enfim é toda a tropicália é Maria Bethania, é Gal Costa, é Milton Nascimento, o tesouro musical de minas.

A lista de prazeres passa por Simone, por Nara Leão, Alceu Valença, Ivan Lins, Malu Magalhães, Adriana Calcanhoto, também Arnaldo Antunes e os Titãs, tem claro a mutante vaporosa Rita Lee a lançar perfume com inteligência musical.

Muito samba triste de gente que se foi nestes últimos tempos – mas a alegria que ficou nas músicas com todos eles – e os que ficam a faltar – fazem o Brasil ser Brasil e dar-nos alegria.

Falta um que é a razão para que hoje a música brasileira esteja a desfilar nesta crónica, é dia de dar 'Aquele Abraço' à criatura inspiradora - voz sempre mais decantada – com arte em que tudo é cristalino, límpido, o hoje aniversariante Gilberto Gil – que completa 81 anos.

O músico de tantas batidas – cidadão que já foi ministro da Cultura de Lula – e que também é membro da Academia Brasileira das Letras, vai para 6 décadas a criar.

Deu-nos em 1967 a louvação embebida em Tropicália.

Deu-nos 'Realce', a 'Refavela' e a refestança.

Cantou-nos que a gente precisa ver o luar, quis falar com Deus, no ano passado confortou-nos ok, ok ok.

Temos sempre fé, lançou a Refloresta em campanha pelo meio ambiente em parceria com o instituto terra de Sebastião Salgado e temos a celebração de todo o Gilberto Gil.

Na plataforma Google Arts, basta clicar em O RITMO DE GIL. Vale ir lá e ter o prazer de escutar todo o Gilberto Gil.

Por estes dias, festa com 80 e uma velas para Gil. Junta todo o clã familiar, Junta quase todos os filhos, uma nora, os netos e se calhar até as bisnetas, seguem dpois para uma digressão europeia: 16 concertos em 10 países.

Portugal incluído com concertos em Lisboa e no Porto.

Ficamos a escutá-lo – também no ritmo de Gil.

Aliás – com o clã Gil já a prometer continuidade musical para as próximas gerações.
Siga ano  e ouça . Escute a ao vivo às quartas-feiras e domingos.

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