'Fomos felizes! Teve surf, kart, canguru, e show na Oceania': o Gilsons na Austrália

Os Gilsons

Os Gilsons em conversa com Adriana Wainstock, da SBS em Português

João, José e Francisco Gil, conversaram com exclusividade com a SBS Português e contaram um pouco da história do grupo, suas inspirações, projetos para além da música e sua passagem fulminante pela Austrália.


Dizem por aí que o português do brasil não é falado, mas cantado. A gente se comunica em forma de música, conversa em sintonia de versos, e em um país tão diverso, a gente se encontra, em algum ritmo em comum.

Roubo aqui um pedaço de uma música do grupo Gilsons, Algum Ritmo, pra descrever o que foram os 4 shows que eles fizeram na Austrália. Sydney, Brisbane, Gold Coast e Melbourne contaram com gente do brasil todo, e outros gringos pra curtir o som único, que é a música popular brasileira.

A música brasileira tem uma poesia muito rica, é essa música que traz consigo a história, mas com o compromisso de se comunicar com seu próprio tempo.
Francisco Gil
Com sua turnê do álbum Pra Gente Acordar, os Gilsons trouxeram um pedaço do Brasil para a Austrália, apresentando sucessos do samba e fechando as noites dos shows com o clássico atemporal Palco, do avô e pai, Gilberto Gil.
Essa energia da saudade de casa que se conecta com esse lugar de carregar algo do brasil é um privilégio, e a gente sente isso do público
Francisco Gil
João, José e Francisco Gil, conversaram com exclusividade com a SBS Português sobre música, turnê down under e o curta metragem do álbum Pra Gente Acordar, que teve como tema, o futebol.
O futebol é um desses lugares onde se cria uma conexão, eu acho que é o que mais se assemelha com a música de certa forma
José Gil
O grupo também falou sobre seu show em Portugal, a expectativa para um segundo álbum e contou para gente como foi viajar pela a Austrália.

Confira parte da nossa conversa abaixo. Para ouvir o bate papo completo clique no sinal play que abre essa página.
Gilsons
A SBS em PortuguÊs acompanhou os ensaios da banda na Austrália
SBS em Português - Vocês são uma família cheia de artistas, como é que surgiu a ideia de juntar bem vocês três e por que o nome Gilsons? 

José: A gente se uniu muito por causa da vida, da vivência. No caso dos Gilsons, a gente cresceu tocando junto e aí fizemos a Sinara, que foi a primeira banda que tinham outros dois integrantes, então não era uma banda familiar.

Mas aí desse projeto, quando ele foi se dissolvendo, a gente teve vontade de tocar outras coisas, outros instrumentos, tanto que os Gilsons usam isso, a gente toca mais de um instrumento, a gente se aventura em várias funções no palco. isso não era uma realidade na Sinara.

Então nesse outro projeto, nasceu essa vontade de botar as composições para fora, tocar de vários instrumentos... E aí surgiu a vontade de fazer esse projeto dos Gilsons. E aí Várias Queixas e Love Love que abriram esse caminho, foram os nossos primeiros lançamentos que começaram aos poucos a espalhar a nossa música e nossa identidade musical. E o nome Gilsons foi uma ideia de Preta.

Francisco: Foi um processo natural. A gente não teve a ideia de fazer o projeto, rolou um convite para o José fazer um show e chamar alguém. Aí ele me chamou, e a gente chamou o João. A gente se apresentou nós três ali família, e ai aquela coisa, as mães ali no grupo da familia comecaram a mandar mensagem. Quando a gente saiu do palco, já estava essa resenha, Nara falando, minha mãe falando e aí lá estava Gilsons. Todo mundo falando, tem que ser Gilsons.

SBS em Português - Vocês gostaram da ideia de primeira?

Francisco: De em primeiro momento não, a gente achou meio caricato, essa conexão já direta com a coisa do sobrenome. Mas a gente depois entendeu que na verdade é genial, já cumpre muito do seu papel, já introduz quem somos. Querendo ou não, é um projeto de família. Foi uma bênção na verdade, realmente uma sorte.
Gilsons
Shows lotados, o Gilsons gradece aos fãs da Austrália
SBS em Português - Vocês, frequentemente são apontados como uma das novas faces da nova MPB, onde é que acontecem os encontros e desencontros da MPB clássica, como a do Gilberto Gil e o som que vocês estão fazendo agora?

João: A gente estava até falando sobre isso esses dias. O que configuraria essa MPB clássica? Onde que Rita Lee é similar ao Gilberto Gil, que é similar a Raul Seixas, que é similar de Milton Nascimento. Óbvio que eles são similares, mas não é em um lugar de gênero específico.

Eu acho que onde o nosso som converge com a mpb clássica é mais no campo das ideias, porque a MPB por essência é isso, ela não é um gênero específico, ela é mais esse ideário de você conseguir misturar a música tradicional com ideias mais contemporâneas.

Eu acho que foi o que as gerações passadas sempre fizeram. É uma coisa que já é tradicional da música brasileira, até anterior à geração da MPB, a gente vê com a Bossa Nova, como já existia a mistura do samba tradicional com jazz americano. E depois veio a turma da tropicália trazendo as influências do rock and roll e das guitarra elétricas, misturado com as músicas mais tradicionais também. Tem sempre essa mistura do que é contemporâneo, atual da época de cada artista, com o que é tradicional, o que é da origem.

Francisco: O fio as canções também, a poesia mesmo. A música brasileira tem uma poesia muito rica. Eu aque o João falou muito bem, essa música que traz consigo a história com o compromisso de se comunicar com o seu próprio tempo. Acho que isso talvez seja a musica popular.

Joäo: Falando de uma forma mais prática, a gente sempre gosta de tentar trazer elementos clássicos como violão de nilon, os tambores africanos..

SBS em Português - Falando desses elementos. Vocês trazem muito aquela baianidade para a música de vocês. O agogo, os tambores, mas vocês também têm aí uma veia do Rio de Janeiro. Vocês sentem que o som de vocês converge essas culturas?

Francisco: Acho que tem a ver com a nossa história, porque somos três cariocas com uma vivência enorme ali no Rio, mas nós três, enquanto esse coletivo, a gente tem uma vivência ainda maior com Salvador. Foram muitos verões lá quando éramos molequinhos, então a coisa do carnaval, da música afro, dos tambores dos blocos afros, do axé music...

De modo geral, era isso tudo misturado com a proximidade que a gente tinha com o Seu Gilberto e toda a turma ali de artistas próximos. A gente teve essa possibilidade de estar vendo tudo ali muito de perto, jessa força toda da música baiana. Por isso essa naturalmente se tornou a nossa intercessão como grupo, o lugar da nossa música onde a gente tem um diálogo natural, se conecta muito com a cultura afro-baiana.
Gilsons
Com narração de Gilberto Gil, Os Gilsons lançaram 'Pra Gente Acordar, O filme'.
SBS em Português - Vocês também arriscaram um projeto no audiovisual, o curta Pra Gente Acordar. O que mais me chamou a atenção, é que de todas as narrativas para representar o Brasil, vocês escolheram o futebol. Por que o futebol?

Francisco: Quando foi fazer era essa ideia de sintetizar algo, o album por si só já é uma síntese de assuntos, uma ideia de um conceito que a gente leva enquanto cançã, enquanto uma proposta. É a coisa do novo amanhã. E aí naquele filme, a gente trouxe essa ideia, e a gente conectou justamente com esses elementos.

O filme se passa em Salvador, então ali tem muito da rua, grande parte do filme foi filmado na gamboa. E naquele período que estamos retratando, em 2002, é um período que, para além do futebol, muita coisa interessante estava acontecendo no nosso país,

João: Eu acho que o futebol bate muito em uma coisa de nostalgia. É um lugar nostálgico para nós três, e muito para o Pedro Alvarenga, que foi o diretor do projeto, amigo de infância.

José: O futebol é um desses lugares onde se cria uma conexão, eu acho que é o que mais se assemelha com a música na nossa vida. Eu acho que a vivência futebol é isso, paixão que vem de casa de alguma forma, é uma retroalimentação. O meu pai (Gilberto Gil) hoje gosta de futebol muito por que a gente ama futebol.

SBS em Português - Quais são as maiores referências da música pros Gilsons?

O Roberto Mendes é uma referência grande porque ele é um cara lá do reconcavo baiano. Eu estava vendo o documentário do tempo rei que ele aparece. Ele é super influenciado pelo seu Gilberto, o jeito de tocar, mas ele com o violão de nylon é uma super inspiração.

SBS em Português - Voces já tocaram alguns shows aqui na Australia, qual e a sensação de vir para o outro lado do mundo e ouvir as pessoas cantando a música de vocês?

Francisco: Eu estou ficando apegado a essa história de tocar fora do país. É muito legal, a gente já está rodando com esse show Pra Gente Acordar vão fazer três anos, eu acho que a gente nunca imaginou que esse disco fosse render tanta coisa boa para a gente, possibilitar tantas coisas incríveis. Porque é isso, o disco em si, a forma como ele foi consumido escutado através das plataformas já foi uma coisa maravilhosa.

Mas a materialização foi uma realização lá no Brasil, tocamos muito, fizemos todos os festivais, alguns mais de uma vez, então é muito comum a gente chegar com o Pra Gente Acordar lá no brasil e as pessoas já terem assistido duas, três vezes. Aqui é uma surpresa, e o pessoal com saudade de casa, essa energia da saudade de casa que a gente acaba tendo o privilégio de fazer parte, esse lugar de carregar algo do Brasil ê muito legal. O pessoal fala muito isso para a gente, "nossa que saudade", e isso é um privilégio, uma maravilha, e a gente sente isso do público, o público transmite para a gente essa saudade. A conexão com o Brasil, com a nossa música, eu estou muito amarradão com essa turne agora aqui na austrália.

João: Isso que o Fran falou é muito forte. Eu acho muito incrível também. Obviamente também é uma coisa que emociona, mas para mim, o que é mais doido é quando são as pessoas que não são brasileiras que se conectam em algum lugar. Esse último show mesmo, tinha um australiano estrangeiro na frente, cantando super emocionado, cantando as letras. Eu acho que ele tava com uma amiga brasileira que provavelmente apresentou para ele a banda, mas você via claramente um gringo cantando. E queria também lembrar do nosso show de Portugal, a gente fez um festivall lá que tinha muito brasileiro mas tinha muito português também. Então quando a galera cantava, era cantando com o sotaque português. Isso foi uma coisa que pirou o cabeção.
Gilsons
SBS em Português - E o país, estão curtindo?

José: Bonito, um lugar bonito. A gente se identifica em algum lugar, é parecido com o Rio em algum lugar. A coisa da cultura de você ter a praia, de você ter o refúgio, de você ter uma natureza exuberante no lugar que você você vive. Tem muitas cidades diferente, a gente pode visitar um pouco. Melbourne é muito diferente de Brisbane, que é muito diferente de Gold.

João: Não tão diferente de Sydney.

José: Foi muito incrível, surfamos, vimos golfinhos.

SBS em Português - Se nao fossem músicos, qual seria a profissao de voces?

João: O Fran ator, ou cineasta, ou os dois.

Francisco: Gostei! José era super empresário. Se formou em administração.

José: Me formei, trabalhei até. Mas eu seria atleta.

SBS em Português - Qual esporte?

José: Qualquer um!

João: Tenis eu acho.

E voce João?

João: Eu gosto de desenhar.

José: Super desenhista super design. Poderia ser um grande criador de quadrinhos.

SBS em Português - Quais são os próximos passos para o Gilsons?

José: Preparar o álbum, temos que preparar, o fas vão bater lá na porta.

Francisco: Tem bastante agenda no ano que vem, já tem outras turnes internacionais por vir. Mas a gente já está com esse plano. Já começou a surgir ali canções, ideias.

SBS em Português - Vai ter áudio visual?

Francisco: Sempre fui o defensor de a gente investir, gastar, ao mesmo tempo que a gente vai acompanhando também as mudanças do mercado. Realmente hoje em dia o videoclipe se tornou quase um, eu não diria um capricho, mas algo que é difícil. O mercado não dá o retorno.

José: Tem uma lacuna, o desafio é justamente achar esse formato audiovisual que vá se adequar a essas novas tecnologias. Essa coisa vertical. Essa coisa rápida, como passar uma mensagem interessante no audiovisual de hoje? Tem uma lacuna que eu acho que esta justamente nesse limbo do mercado, ainda não sabe exatamente o que vai ser o audiovisual de música. Eu acho que esse movimento vem porque a música ficou acessível de você produzir e de você lançar, e o clipe nunca vai ser acessível de você produzir com recursos mais profisisonais, com equipamentos.
Gilsons e Fernando Costa Jatoba.jpg
Gilsons e último à esquerda, o empresário Fernando Costa Jatobá que trouxe Gilberto Gil e agora o Gilsons para a Austrália
SBS em Português - Qual a diferenca de lançar um primeiro álbum em que ainda não há tanta expectativa do público, e um segundo, já com uma identidade consolidada?

João: A dificuldade é no lugar do approach, porque existe essa coisa de você poder fazer uma coisa parecida com o que você já fez em primeiro, em um lugar de garantia, mas ao mesmo tempo isso pode soar preguiçoso e não criativo. Por outro lado, se você faz uma coisa completamente diferente, você pode alienar a galera que já gosta do nosso som. Então é meio que entender esse balanço.

Francisco: Confiar né, Gilsons já é uma coisa que a gente foi entendendo na prática, no estúdio. A gente ali foi entendendo naturalmente no dia a dia. O José por exemplo, quando a gente se juntou assumiu a produção. Ele foi manifestando, foi tomando a frente. A gente foi entendendo em estúdio, para onde a gente ia.

José: Acho que para mim, eu me chamar de produtor, foi em relação a conhecimentos técnicos que eu acredito serem essenciais para você ser um produtor, conhecimento em relação as coisas técnicas de equalização, compressão, entender como gravar num estúdio, tirar som essas coisas que na nossa sonoridade foram se tornando fundamentais.

Para ouvir o bate papo completo, clique no 'play' desta página, ou ouça no perfil da SBS Portuguese no seu agregador de podcasts preferido.

às quartas-feiras e domingos.

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