A discussão política em Portugal tem por estes dias uma alternativa à agenda monotemática dominada pela pandemia, que causou, na terça-feira, mais 62 mortes.
E na véspera, mais 64, sempre números recorde de todos estes oito meses. Está a ser assim em Portugal como em quase todos os países europeus: Itália, só na terça, mais 580 mortes; França, 472 vitimas mortais em 24 horas: Espanha, também só na terça, 411 óbitos.
Mas as outras discussões políticas não estão totalmente afastadas, e, em Portugal, a polémica está brava em resultado do que aconteceu depois das eleições regionais no arquipélago dos Açores: o PS, que governava a região há 22 anos, voltou a ganhar, mas com apenas 25 deputados ficou a 4 da maioria absoluta, que passou a ser possível à direita com o somatório de todos partidos, incluindo o Chega, de extrema-direita.
O PSD nacional sempre afastou qualquer pacto com esta direita extrema mas, perante a pressão do PSD regional açoriano, ansioso por chegar ao poder, cedeu e está em constituição nos Açores um governo de direita apoiado por essa direita radical do Chega.
Ficou instalada a polémica, inflamada, com muita gente dentro de partidos democráticos à direita, como o PSD e o CDS a criticarem a abertura a um partido xenófobo.
É como escreve em editorial Manuel Carvalho, diretor do jornal Público:
“O líder do PSD tem-se dedicado a um esforço ansioso e empenhado para explicar o inexplicável: o acordo nos Açores que normaliza o Chega e transforma um num partido do sistema partidário e parlamentar. Chegámos assim ao ponto em que a contestação ao apoio parlamentar do Chega nos Açores deixou de ser património da esquerda, moderada ou radical. A direita decente, seja a da facção liberal ou a conservadora, .“
Está em causa um negócio político que está a abrir grandes tensões, mesmo dentro do PSD liderado por Rui Rio, o partido que foi de Sá Carneiro que é o de Cavaco Silva e do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, sempre defensores do chamado cordão sanitário a posições xenófobas, racistas e intolerantes.