Lourdes Castro apresentou-se assim há 61 anos, tinha ela 30:
“Eu faço objectos /Eu faço esculturas /Eu faço relevos /Eu colo coisas /Eu colo tudo o que é para deitar fora, /todas as tralhas que já não servem para nada, /velhas coisas usadas, novas, muito novas, /sem graça; /coloco-as umas ao lado das outras, /empilhadas ou seguindo linhas, não sei /quais; espaços em volta ou espaços nenhuns, /cheios. /Pinto tudo a alumínio. /É isto”.
A artista plástica Lourdes Castro desenvolve a sua obra desde finais da década de 1950, com um percurso artístico multifacetado, com recurso a técnicas e processos muito próprios, e que mostram a sua profunda sensibilidade e a atenção particular com que o seu olhar artístico se relaciona com o mundo.
Lourdes Castro morreu este sábado, aos 91 anos, na ilha da Madeira, onde nascera em 1930. A
ilha da Madeira da sua infância e juventude, de onde saiu aos 20 anos e para onde regressou definitivamente em 1983.
Viveu em Paris e foi uma das criadoras da revista “KWY”. KWY (as três letras que não existem no alfabeto português).
O movimento “partia do princípio de que a realidade era apropriável para o interior do mundo da arte – tudo se poderia converter em imagem artística, desde os cartazes meio arrancados das paredes até aos desperdícios do quotidiano
KWY é a aventura de uma amizade entre seis artistas portugueses - René Bertholo, Lourdes Castro, Costa Pinheiro, Gonçalo Duarte, José Escada, João Vieira – mais um búlgaro - Christo - e um alemão - Jan Voss. Jovens, estrangeiros e sem um tostão, na Paris de 1958 - muito mais não teriam em comum -, produziram12 números de uma revista de artes plásticas e literatura (hoje autêntica preciosidade bibliográfica), quatro exposições em quatro cidades europeias, e edições de livros-catálogos.
Aconteceu entre 1958 e 1963 e deixou marca.
Foi então que Lourdes criou as suas “caixas”, como Caixa de alumínio (lagostins) e Caixa de Alumínio (óculos), de 1962. São quadros na forma de caixas repletas de objetos da vida mundana, que a artista banhava a tinta cor de prata para lhes dar uma imagem de preciosidade.
Lourdes Castro desenvolveu intensa e prolongada pesquisa sobre perfis e sombras, em materiais diversos.
A parte mais conhecida da obra de Lurdes Castro é o trabalho feito com sombras, tanto em plexiglas como em tecido e ao vivo, através do Teatro de Sombras. A par das sombras, Lourdes Castro tinha uma grande ligação à natureza, visível por exemplo na série “Grand Herbier D’Ombres”.