O governo da Austrália quer consertar o sistema de imigração que já não considera mais funcional

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A ministra de Assuntos Internos Clare O'Neil afirma que o atual sistema de imigração torna a Austrália pouco atraente para imigrantes qualificados.

A Ministra de Assuntos Internos Clare O´Neil definiu a política atual como “quebrada” e pede que seja repensada. Mudanças devem acontecer pelos próximos meses.




A Austrália deve deixar o sistema de imigração "permanentemente temporária" e aproveitar a oportunidade oferecida por pessoas qualificadas aqui e no exterior. É o que diz a ministra de Assuntos Internos, Clare O´Neil.

A ministra pediu uma revisão do sistema imigratório da Austrália. A ideia é facilitar a chegada de imigrantes qualificados para suprir a falta de mão de obra e para estudantes internacionais talentosos permanecerem no país por um longo período.

Mas em um discurso na cúpula da força de trabalho da Australian Financial Review na quarta-feira, O'Neil alertou que melhorar o sistema de imigração da Austrália era um "projeto de cinco anos". E culpou a Coalização ao dizer que o Partido Trabalhista hoje trabalha com "canos quebrados" deixados para trás pelos governos anteriores.
A ministra Clare O´Neil comparou a posição da Austrália na corrida global de talentos a uma corrida de rua, com o país a "voltar aos pelotões iniciais com pesos de chumbo amarrados nos tornozelos", por conta de um sistema de imigração muito complexo e rigoroso.

"[O sistema] está falho. Não é estratégico. É complexo, caro e lento. Não está correspondendo aos negócios, aos imigrantes ou para a nossa população", disse ela.

Quão dependente é a Austrália de trabalhadores temporários?

O'Neil descreveu a confiança no trabalho temporário como uma "enorme oportunidade perdida" para os negócios.

Ela criticou a rápida expansão da imigração temporária sob o antigo governo da Coalizão (liberais e nacionais), enquanto a entrada de imigrantes permanentes qualificados permaneceu relativamente estagnada.

Ela afirmou que a "mudança impressionante de direção" para a imigração temporária trouxe custos sociais e econômicos significativos, mas ocorreu por "negligência" e não por um debate político adequado.

O número de imigrantes temporários na Austrália - excluindo-se vistos de visitante e trânsito - saltou de cerca de um milhão em 2007, quando o Partido Trabalhista estava no poder pela última vez, para 1,9 milhão atualmente. Isso apesar da entrada de imigrantes qualificados permanecer praticamente a mesma, em 30.000 por ano, disse ela.

"Agora é relativamente fácil para um imigrante temporário de baixa qualificação vir para a Austrália, mas difícil, lento e não particularmente atraente para um imigrante permanente de alta qualificação vir para cá. Temos o sistema invertido", disse ela.

Qual é o novo foco do governo?

Clare O'Neil descreveu os estudantes internacionais como "grande potencial inexplorado", mas alertou que muitos foram "efetivamente forçados a sair" depois de se formarem.

Cerca de 40% dos que permaneceram acabaram trabalhando em empregos menos qualificados do que poderiam, em parte porque a Austrália carecia de um sistema para integrá-los amplamente à força de trabalho, disse ela.

Ela citou o caso de Brian Schmidt, um físico americano ganhador do Prêmio Nobel que imigrou em 1994 e acabou por se tornar vice-reitor da Australian National Univesity.

"O visto de Brian foi processado em quatro dias. O jovem astrofísico brilhante de hoje em dia, dependendo da categoria do visto, pode ter que esperar um ano e pagar milhares de dólares antecipadamente... Que perda [ele] teria sido para a Austrália", disse disse O'Neil.

Acelerar o reconhecimento de qualificações no exterior também está na agenda.

A ministra de Assuntos Interiores afirmou que, apesar da "escassez desesperada" de enfermeiros em todo o país, o sistema de vistos faz com que estrangeiros qualificados possam ter que pagar até AUD$ 20.000 e esperar 35 meses para que sua qualificação seja reconhecida.

“No momento, isso simplesmente torna a Austrália um destino pouco atraente para os trabalhadores que realmente queremos e precisamos”, disse ela.

Que impacto tem a imigração temporária?

Clare O'Neil disse que o Partido Trabalhista está tentando acabar com políticas que criam condições "permanentemente temporárias".

Essas condições deixam imigrantes incapazes de estabelecer raízes na Austrália, incapazes de investir na própria educação ou obter um empréstimo para iniciar um negócio.

"Em vez disso, muitos estão em uma jornada kafkiana, preenchendo formulários perpetuamente e passando por diferentes tipos de vistos temporários. Não é bom para eles, nem para o país", disse ela.

Qual é o contexto?

A pandemia do COVID-19 exacerbou a escassez em várias áreas, desde os setores de saúde e assistência a idosos até o trabalho agrícola regional.

Tanto a Coalizão quanto os Trabalhistas descreveram a situação no setor de assistência a idosos como uma "crise" no último mandato do governo anterior.

Antes da eleição de maio de 2022, o Partido Trabalhista prometeu ter um enfermeiro qualificado em cada casa de repouso australiana 24 horas por dia, 7 dias por semana, 12 meses por ano, após a posse. Na época, O'Neil admitiu que a promessa significava que teria "pouco mais de um ano para encontrar as enfermeiras adicionais de que precisaremos".

Na cúpula de empregos do Partido Trabalhista em setembro passado, empregadores e representantes empresariais pediram um programa permanente mais amplo, reclamando que os requisitos onerosos para visto mostram que eles estavam perdendo talentos para outros países.

O governo também encomendou uma revisão em larga escala do sistema de imigração da Austrália, que deve ser lançada ainda este ano. Ele examinará o "tamanho e a composição ideais" da imigração permanente e avaliará quais mudanças políticas tornariam a Austrália mais atraente para estrangeiros qualificados.

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