É muito fácil identificar Luís Geraldes mesmo quando o pintor português está entre a multidão.
A sua barba azul não passa despercebida mas é, sobretudo, a onda gigante de amigos, conhecidos e curiosos que o cumprimentam, onde quer que se encontre, que fazem dele uma figura incontornável da comunidade portuguesa na Austrália.
Autor do mural de cerâmica e pintura patente entre a parede dos correios e a parede da estação do comboio de Petersham - único em toda a Austrália a representar a arte e a técnica do azulejo português, Geraldes vê este seu trabalho como importante na proximidade entre portugueses e australianos.
Julgo que este meu mural é uma peça de arte urbana importante para a comunidade portuguesa na Austrália, já que une a nossa expressão cultural da cerâmica aos elementos fundamentais da arte Aborígene: os animais, as flores, as espirais e até a serpente típicas dos artistas das Primeiras Nações australianasExplica o artista português, acerca do seu mural patente em Petersham - local mais relevante do que nunca para os portugueses já que acabou por receber, oficialmente, o nome de 'Little Portugal'.
Nascido em 1957 numa aldeia do concelho da Covilhã, mudou-se para Angola com apenas quatro anos, e foi fascinado com a magia dos rituais dos povos Indígenas africanos que viria a ensaiar a sua vida futura de artista plástico.

Luis Geraldes a trabalhar numa das suas muitas obras de arte, no seu estúdio em Melbourne. Credit: Source: Luis Geraldes
E, entretanto, já lá vão 38 anos. Hoje em dia, já a viver seis meses em Portugal e seis meses na Austrália, aproveitando o melhor dos dois mundos ao longo do ano.

O pintor português a trabalhar no seu estúdio em Lisboa, Portugal, onde cria muitas das suas obras as quais, nos últimos três anos de pandemia, tem mostrado mais pela Europa fora.
Hoje, já não leciona. A não ser que receba algum convite muito interessante e circunscrito no tempo.
Afinal, confessa, sempre foi e sempre será como artista que se sente “verdadeiramente feliz”.
A sua arte é filosófica e muito conceptual, carregada de simbologia esotérica, mas também científica e, acima de tudo, inspirada nos povos das Primeiras Nações, australianos e não só.
O meu mural de Petersham é único na representação da arte e da técnica do azulejo português na AustráliaDiz Luís Geraldes que todos os anos, por esta altura, gosta de vir a Petersham comungar da cultura portuguesa no Festival do Bairro, mas também rever as suas cores e formas através de um dos seus trabalhos de pintura e cerâmica mais relevantes na Austrália - o seu mural ´BS - Black Saturday´.
Tão depressa é capaz de pintar representações da fauna e da flora associadas à cultura Aborígene, como de ‘viajar’ no universo rico dos planetas e outros objetos do céu noturno, ou até mesmo de pintar a sua visão muito própria da árvore da vida, do ovo cósmico ou da espiral do ADN.
A sua arte é rica em cores e formas, e é extraordinariamente profunda em termos de elementos culturais inspirados por diversos povos do globo, também muito fruto das suas experiências enquanto cidadão do mundo, que não perde uma oportunidade de viajar seja por cidades tecnologicamente avançadas seja por zonas remotas ou terras Indígenas sagradas.
Parece que tudo e todos inspiram o pintor português cuja obra já marcou presença nos leilões da prestigiante Christie´s, pertence ao património de colecionadores de arte espalhados pelo mundo, e integra galerias e espaços de arte contemporânea que vão do National Museum of Art, em Israel, ao Museu de Arte Moderna em Angola, passando pelo Centro Cultural do Fundão ou, na Austrália, nos espaços públicos de arte urbana como sejam o mural de Petersham, Sydney, ou a Portuguese Association of Victoria, em Melbourne, entre muitas outros espaços culturais pela Europa e outros cantos do mundo.

Mural de Luis Geraldes, parte da coleção 'Black Saturday' (Sábado Negro), patente na Portuguese Association of Victoria, em Melbourne. Credit: Source: Luís Geraldes
O artista recorda-nos ainda da influência do que destruiu a área onde vivia na época e matou 11 dos seus vizinhos rendidos às chamas – evento que viria a inspirá-lo na criação de uma parte importante do seu mural de Petersham e do qual resultaria o próprio nome da peça, ‘Black Saturday’ (Sábado Negro).
Ainda nesta nossa conversa, Luís Geraldes explica a sua relação com a arte Aborígene e deixa uma mensagem a todos os jovens portugueses e lusodescendentes com aspirações à vida artística.
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