Têm 550 anos e são a mais relevante pintura antiga portuguesa.
Muitos estrangeiros viajam a Lisboa para visitar no Museu Nacional de Arte Antiga, no Bairro de Santos/Janelas Verdes, frente ao rio Tejo, estas seis pinturas atribuídas a Nuno Gonçalves e que apresentam um agrupamento de 58 personagens em torno da dupla figuração de São Vicente.
O que podemos ver é uma solene e monumental assembleia representativa da Corte e de vários estratos da sociedade portuguesa de 1450, em ato de veneração ao patrono e inspirador da expansão militar quatrocentista no Magrebe.
São painéis que antes de serem expostos como atração principal do MNAA estavam originalmente integradas no retábulo de São Vicente da capela-mor da Sé de Lisboa.
Está em curso neste momento, uma delicada operação: pela primeira vez nos últimos 100 anos, o restauro dos painéis.
Antes de os conservadores-restauradores pegarem em pincéis e cotonetes para intervir nesta notável pintura antiga portuguesa é preciso mapear com rigor as alterações que sofreu ao longo dos séculos e identificar os seus problemas. É precisamente nessa fase de diagnóstico que está a operação, que envolve dezenas de pessoas e tecnologias altamente sofisticadas.
Até onde podem/devem os técnicos de agora ir na sua busca pelo original? Que retoques devem ficar e quais têm de sair? Até que ponto podem os especialistas determinar se as diferenças entre o desenho que a pintura esconde e o que foi executado a tinta resultam de uma decisão do próprio pintor, mestre Nuno Gonçalves ou de quem veio a seguir?
Depois de retirado o verniz ou vernizes que escurecem a pintura, é provável que apareçam pormenores do desenho que são hoje invisíveis. Sem verniz, a pintura ficará menos uniforme e isso facilitará a distinção entre o que é original e o que não é.
As perguntas sobre como agir são muitas e de resposta complicada.
Estava assumido ser preciso intervir para travar a degradação nalgumas zonas e melhorar a fruição da pintura. Constata-se que as limpezas agressivas, com soluções com um PH muito básico, quase como a lixívia, prejudicaram a obra, abrindo pequenas fendas na pintura e conferindo-lhe um aspecto estalado
A intervenção é necessária, mas colocam-se tantas questões, até deontológicas, neste restauro.
O diretor do Museu, Joaquim Caetano, explica que ao longo de cinco séculos e meio alguns dos materiais usados em intervenções anteriores sobre os painéis levaram a alterações cromáticas e até de volumetria da superfície da pintura.
É ele, Joaquim Caetano, quem explica: “O que vamos tentar apurar é até que ponto o restauro antigo, que já tem uma importância histórica, alterou a pintura primitiva e mesmo a imagem que temos da obra; sabemos que houve reforço de zonas de contorno nalguns olhos, bocas e sobrancelhas. Mexer numa sobrancelha num retrato coletivo como este, em princípio, não faz grande diferença, mas mexer em 120 pode alterar significativamente a imagem do conjunto. É preciso mapear tudo, mapear muito bem as alterações antes de tomar decisões.”
Está a ser revigorada uma das mais amadas obras de arte em Portugal, os painéis de São Vicente, atribuídos ao mestre Nuno Gonçalves, por volta de 1470.
Se as pessoas tivessem eterna capacidade de observação ele haveria de estar espantado com a mobilização em volta destes 6 prodigiosos painéis.