Aviso: As informações neste artigo não devem ser usadas para diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença para fins terapêuticos como um substituto para o conselho de um profissional de saúde. Este artigo contém referências à depressão, ansiedade e suicídio.
No mês de novembro, movimentos como , , usam esses dias para levantar a questão da saúde física e mental masculina. A SBS Portuguese traz o relato sincero de dois homens que passaram por episódios muito desafiadores, de bullying ao pânico, e hoje vocalizam a importância de homens e meninos cuidarem e apoiarem mutualmente no quesito: saúde mental masculina.
O modelo de “força” que adoece o corpo e a mente de muitos homens:
De acordono com o , cerca de 40% dos homens consideram o estresse a principal causa de seus problemas de saúde, dos quais 52% desses homens estão entre 18 a 34 anos. Depressão, ansiedade e imagem corporal vêm em seguida. 22% da mesma faixa etária relataram a solidão como um grande fato ligado aos relacionamentos.
No caso de Capella, ele chegou a Melbourne em setembro de 2018 com sua esposa Nicoly. Em março de 2020, o estado de Victoria iniciou uma sequência de seis lockdowns devido à pandemia. Melbourne se tornou a cidade com mais dias em lockdown no mundo, e esse foi um período muito desafiador para o casal.
Bruno e Nicoly chegaram na Austrália em setembro de 2018.
“Eu só pensava que precisava ser produtivo para viver e correr atrás das coisas. A sociedade impõe que tu precisa, e a Austrália é um país muito consumista. Então isso bateu bastante a minha cabeça. Eu entrei num ciclo vicioso de trabalho, trabalho e trabalho”, lembra Bruno.
Bruno foi perdendo o contato com amigos e familiares e imergindo em jornadas de trabalho, prejudicando sua saúde física e mental. Crises de ansiedade começaram a ocorrer com certa frequência.
Teve uma noite que a minha cabeça não parava. Eu comecei a andar dentro de casa e chorava dando voltas na mesa, e a Nicoly chorava do meu lado e a gente se abraçava. Até que liguei para um amigo, ele veio, eu desabafei, e ele levou a gente para casa da família dele por um tempoBruno Capella, COO de empresa fabricante e distribuidora de produtos de construção civil.
Bruno já tinha ido a médicos, feito vários exames físicos, mas os resultados não apontavam nenhum problema no corpo. Tentou tomar remédios, mas também não tiveram muito resultado.
"Parecia que não tinha mais volta, que eu tinha chegado no meu limite. Não conseguia mais tomar banho sozinho. A Nicole tinha literalmente que ficar sentada no banheiro comigo porque eu tinha medo de passar mal", lembra Bruno.
Em 2023, com acompanhamento de psicologo e mudanças no estilo de vida com exercício, alimentação e sono, Bruno foi restabelecendo sua saúde, mas com uma visão renovada da vida.
Bruno enfatiza a importância de poder conversar sobre isso e do apoio dos amigos e família nesse processo.
Eu não vou dizer que eu tenho controle 100% porque ninguém tem o controle de tudo, mas digo que a partir do momento que tu sabe o teu limite, procura se cuidar, e aí que você consegue chegar mais longe. Porque sem saúde, não se chega a lugar nenhum.Diz Bruno.
(Escute a entrevista completa com o Bruno no áudio acima, ou na sua plataforma de podcast favorita em SBS Portuguese).
Do bullying ao IronMan:
Jacob Pratt, cresceu em Queensland como um menino australiano “normal”, isso era o que as pessoas ao redor pensariam ao vê-lo na escola ou em casa. Mas não era assim que ele se sentia.
Eu acho que, como muitos homens, foi uma infância bastante desafiadora. Eu cresci obeso, você meio que sabe que você é diferente, as pessoas vão te dizer isso com bastante frequência.Jacob Pratt, gerente de e-commerce em Melbourne
“Me lembro de estar na quadra de basquete da escola e ser jogado no chão. No ônibus, e levar um tapa na cara sem motivo de outras crianças mais velhas. Me lembro de ir para casa, e falar para minha mãe: ‘Quero acabar com tudo’.”
Jacob, assim como muitos crianças hoje, sofreu com o bullying de forma silenciosa. Ele enfatiza a importância de "check on your mates".
“Aos 17, mudei de direção, mas da maneira errada quando você tenta mudar muito rápido. E entrei em uma espiral de transtorno alimentar e fui à academia três a quatro vezes por dia só para tentar perder peso.”
Jacob ressalta que foi um amigo da época do colegial e os novos amigos da fase fitness que o ajudaram a encontrar um equilíbrio. “Comecei a conhecer pessoas que tinham os mesmos objetivos, e elas me ajudaram a manter o foco no lugar certo."
Uma revelou que 51% dos homens sentiam que tinham ou estavam sofrendo de sintomas de saúde mental ruins, mas um terço achava difícil conversar com alguém sobre isso.
Jacob, que hoje é gerente de e-commerce para uma empresa na área da beleza em Melbourne, recentemente terminou sua primeira meia Iron Man, uma competição que envolve 1,9 km de natação, 90 km de bicicleta e 21,1 km de corrida.
E dedicou essa conquista a sua jornada dos bullings da infância como uma criança acima do peso, a superação física e mental na fase adulta, arrecadando fundos para do .
Jacob passou por várias lesões antes do IRONMAN 70.3 Melbourne, mas decidiu seguir para lembrar que "somos mais fortes do que nossas dores".
Minha meta era arrecadar $ 510 porque perdemos um homem para o suicídio a cada minuto e o limite de tempo para o Half Ironman é de 8 horas e 30 minutos (150 minutos), o que é um dólar por homem. Mas fiquei muito feliz que arrecadamos mais de $ 2.400, isso é 5 vezes nossa meta, incrível!diz Jacob.
(Escute a entrevista completa com o Jacob no áudio acima, ou na sua plataforma de podcast favorita em SBS Portuguese)
Suicídio é a maior causa de morte na Austrália, e 75% dos que tiram suas próprias vidas são homens:
Na Austrália, os homens vivem, em média e têm duas vezes mais probabilidade do que mulheres de morrer antes dos 75 anos por causas evitáveis.
O entre 15 e 44 anos. Estima-se que 1 em cada 3 australianos relatou sentir-se solitário. E 75% dos que tiram suas próprias vidas são homens. Estudos mostram que muitos evitam buscar ajuda por medo de julgamento ou estigmas.
Walter Graneto, psicologo e coordenador do serviço de posvenção ao suicídio da Anglicare WA, lembra que essas estatísticas de que a população masculina é a grande maioria no número crescente de suicídios também se revela em países como EUA e Reino Unido.
O é três vezes mais comum entre homens do que entre mulheres. A diferença entre os sexos aumentou ao longo do tempo. E reporta sofrer de sintomas de problemas de saúde mental.
O que a gente observa nas estatísticas de suicídio é que temos um pico na população acima de 80 anos, mas em segundo lugar, vemos o aumento de casos entre homens de 25 a 45 anos.Walter Graneto, psicologo e coordenador do serviço de posvenção ao suicídio da Anglicare WA.
Walter disse que o modelo tradicional de masculinidade era “tóxico e dificultava a expressão emocional”. A mídia social intensificou o problema cultural ao ditar o que os homens deveriam ser, ter, parecer e fazer, gerando uma crise de identidade masculina, disse ele.
“Isso despertou os movimentos e discussões de gênero que são essenciais, mas que colocaram o homem em um lugar sem uma definição clara do que é ser homem hoje”, diz Walter.
Mais de um terço dos homens acha difícil falar sobre seus sentimentos, alegando “não querer sobrecarregar os outros” (50%), “constrangimento” (46%), e “estigma” (40%). Source: Moment RF / Djavan Rodriguez/Getty Images
Alcool, drogas, pornografia, jogos de aposta, ou mesmo a relutância de crescer e virar um homem adulto, são formas de escape do problema real.
A diz que Homens são mais propensos a se tornarem viciados, 11,5% dos meninos e homens com mais de 12 anos têm um transtorno de uso de substância.
“É muito difícil para um homem, sobretudo aqui na Austrália, chegar e pedir ajuda”, explica Walter, que, em geral, os homens têm medo de ser criticados, ridicularizados até por outros homens. Que não querem se 'tornar um peso', falando sobre os problemas que enfrentam.
O homem é muito bom para fazer coisas juntos, sair ou praticar esportes com amigos, mas para sentar e conversar, nisso somos muito ruins, pois me incluo.Explica o psicólogo Walter Graneto.
"Mas, como profissional na área, posso afirmar que o suicídio pode ser prevenido, não apenas pelos serviços de suporte que são importantes, mas principalmente pelo contato de alguém próximo. Poder desabafar com alguém em um momento de crise pode salvar vidas."
(Escute a entrevista completa com o psicólogo Walter Graneto no áudio acima, ou na sua plataforma de podcast favorita em SBS Portuguese).
Leitores que buscam suporte em crise podem entrar em contato com a pelo telefone 13 11 14, o pelo telefone 1300 659 467 e a pelo telefone 1800 55 1800 (para jovens de até 25 anos). Mais informações e suporte com saúde mental estão disponíveis em pelo telefone 1300 22 4636.
Para ouvir a reportagem completa, clique no 'play' desta página, ou ouça no perfil da SBS Portuguese no seu agregador de podcasts preferido.
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