Com o estatuto de Professor antes dos 50 anos, o português nascido em Moçambique, Armando Teixeira-Pinto é dos poucos a conseguir esta proeza na Academia.
Mas a isso deve-se o facto de ser, por natureza, um homem de coragem e de espírito de missão que parece atirar-se à vida, à família (esposa, Susana e dois filhos, Afonso e Inês), à ciência e à comunidade com a paixão de um português que 'não deixa para amanhã o que pode fazer hoje'.

Armando Teixeira-Pinto e sua esposa, Susana Teixeira-Pinto, num dos muitos passeios em família, pela Austrália, onde se diz feliz pela qualidade de vida, cidades de Primeiro Mundo, bom clima, paisagem única e a possibilidade de conduzir de carro duas horas e estar rodeado apenas pela natureza
Com o mesmo espírito de aventura, fez as malas e, em 2012, atravessou o mapa para viver a experiência australiana.
Hoje, não só é Professor e investigador na instituição de ensino superior de topo em Down Under - Universidade de Sydney, como ainda acumula a função de co-líder no Centro de Investigação Renal.
Mais recentemente, sentiu o apelo de servir a comunidade civil australiana e, não se acanhou - alistou-se nas Forças Armadas e está já, depois das cinco semanas obrigatórias de recruta, na sua caminhada para Oficial do exército, como reservista em regime part-time.

Professor Armando Teixeira-Pinto, um académico português com provas dadas naquela que é considerada, internacionalmente, uma universidade de topo - Universidade de Sydney.
Realizei trabalhos de investigação no contexto da pandemia, onde demonstramos o aumento de mortalidade na população dos doentes crónicos renais – muito susceptível à COVID-19 – e algumas formas de combater essa mortalidadeArmando Teixeira-Pinto
O investigador, conta também como viu um dos seus projectos de investigação nos Media e nas Redes Sociais australianas, sem que ele nem os seus colegas de trabalho tivessem qualquer intenção que isso acontecesse.
Tratou-se de um projecto comparativo, ainda na área da COVID-19, entre a taxa de mortalidade da Austrália e a do Reino Unido - já que geograficamente, ambas são ilhas com um conjunto suficiente de características similares para levar a cabo este estudo - em que Teixeira-Pinto e os seus colegas concluiram que a Austrália tinha tido uma taxa de mortalidade bastante mais baixa.
O estudo acabaria, para grande espanto da equipa de investigação, por ser referenciado publicamente pelo Primeiro Ministro australiano em prol das políticas de saúde australianas durante a pandemia.
Houve outro trabalho, que foi quase um exercício académico de 'secretária', em colaboração com quatro colegas, onde demonstramos que a mortalidade na Austrália tinha sido, na época [pandemia da COVID-19], bastante inferior em relação ao Reino Unido.Armando Teixeira-Pinto

O casal de portugueses bem sucedido na Austrália: Professor Armando e Susana Teixeira-Pinto (Coordenadora do Ensino da Língua Portuguesa na Austrália, pelo Instituto Camões)
Os media acabaram por apanhar esse trabalho que, tendo sido publicado entretanto, acabou por ser citado pelo Primeiro Ministro australiano como que provando o sucesso das políticas de combate à COVID-19. Acabou por haver um aproveitamento político do nosso trabalho, e não era esse o nosso objetivo científico”Armando Teixeira-Pinto
Confirmando que entre a comunidade científica e académica a discussão da vacinação da COVID-19 é tão acesa e presente quanto na comunidade em geral, o Professor esclarece o que se passa afinal:
Todos os experts na área das vacinas, consideravam na época ser impossível criar uma vacina em menos de cinco anos. Mas conseguiu-se fazê-lo em tempo record. Não é 100% eficaz e tem efeitos secundários, como qualquer outra vacina.Armando Teixeira-Pinto
Contudo, para Teixeira-Pinto, embora hajam questões que irão para sempre alimentar esta discussão, não há motivos para tanta teoria da conspiração, assegura:
"Os efeitos secundários da vacina da Covid-19 existem, nomeadamente o aumento da incidência de patologias cardíacas - em particular, entre os jovens do sexo masculino. E eventuais efeitos secundários continuam a ser analisados, testados e debatidos."
Não antevejo nenhum cenário catastrófico nem nenhuma patologia ou efeito secundário advindos da vacina da Covid-19, que sejam tão dramáticos no futuro como ouvimos nas teorias da conspiração das redes sociaisArmando Teixeira-Pinto
O principal problema parece ser o de sempre, em situações de grande exposição à opinião pública e de grande desespero e incerteza como foi o caso da pandemia da COVID-19:
"A questão da vacinação da Covid-19 é muito polémica, há muito ruído e teoria da conspiração nas redes sociais. Toda a gente 'é' expert na matéria."
A verdade é que também não há consenso na comunidade académica.Armando Teixeira-Pinto

O Professor e Oficial do exército Australiano, junto da sua família na Austália: o filho Afonso, a esposa Susana e a filha Inês Teixeira-Pinto.
Este português, agora já também cidadão australiano, quer servir a comunidade australiana na sua diversidade cultural e social, nos bons e nos maus momentos.
Pensando na sua herança familiar, naquilo que considera quase como a sua responsabilidade social e cívica na Austrália, e aproveitando o facto dos seus filhos estarem mais crescidos e de lhe sobrar mais tempo, Teixeira-Pinto decidiu em 2019 alistar-se no exército australiano.
"O meu avô era Oficial no exército português e eu sempre tive um interesse na carreira militar. Mas o que também me levou à ideia de ser reservista no exército australiano foi achar que deveria contribuir de alguma forma para a minha comunidade aqui", começou por explicar.
Acima de tudo, percebi claramente, com os incêndios de 2019 e, a seguir, com as cheias em Queensland, que o exército australiano tem um papel fundamental de apoio às vítimasArmando Teixeira-Pinto
Outro dos motivos para esta tomada radical de decisão, numa idade em que a maior parte das pessoas pensa em abrandar o seu ritmo de vida e raramente embarcam em missões tão absorventes e exigentes como o serviço no exército, é que o Professor Teixeira-Pinto teme pelo futuro do mundo, no contexto das guerras atuais e outras que potencialmente podem vir a acontecer, e nas quais a Austrália pode vir a estar envolvida.
Olhando para o mundo neste momento, onde a possibilidade da Austrália participar numa guerra não é alta mas também não é assim tão reduzida, seguir a carreira militar como reservista ainda me fez mais sentidoArmando Teixeira-Pinto

Momento de grande esforço físico e psicológico na vida do Professor Armando Teixeira-Pinto - durante a recruta para oficializar o seu serviço no exército Australiano.
"Foi um processo longo, principalmente porque, desde que entrei em contacto com as Forças Armadas em 2019, aconteceu a pandemia. Entretanto, tive ainda que reunir uma data de documentos e fazer testes físicos, psicológicos e médicos.", diz Teixeira-Pinto.
Desde a entrevista que resultou, finalmente, na minha aprovação até iniciar o treino de recruta, ainda demorou cerca de um anoArmando Teixeira-Pinto
Agora que a recruta está ultrapassada, o reservista Teixeira-Pinto olha para trás com alguma saudade do seu tempo em Wagga Wagga.
Contudo, garante que a experiência foi muitíssimo mais dura, a todos os níveis, do que algum dia poderia supor:
"A minha recruta foi um treino muito duro, física e psicologicamente. Foram 5 semanas de treino que condensaram o treino de 12 meses normal de soldado em regime de full-time, à exceção de dois módulos que envolvem granadas e morteiros."
Acordávamos às 5:45 da manhã e estávamos a treinar intensivamente até cerca das 10 da noite, todos os dias. Eu não diria que foi divertido. Foi um desafio importanteArmando Teixeira-Pinto
O elemento psicológico desta primeira experiência no exército australiano, talvez ainda tenha superado o esforço físico, tal como confessa o novo reservista:
"Na minha inocência achei que seria mais fácil. Para minha surpresa foi muito duro e intensivo, a todos os níveis. Mas, agora olhando para trás, até tenho saudades da minha recruta"
Enquanto estive em Wagga Wagga, tal como os meus colegas de pelotão, só queria regressar a casa e à minha família, com quem só pude falar três vezes pelo telefone nestas 5 semanas.Armando Teixeira-Pinto
Já para não falar que para alguém como Teixeira-Pinto, que é um líder por natureza, também foi particularmente desafiante aceitar e conviver tranquilamente com as regras e as pressões do universo militar.
"Tive de puxar várias vezes do meu racionalismo e pensar que tudo aquilo era uma espécie de 'jogo'", recorda o Reservista.
Custa muito ver um Cabo com metade da minha idade, a gritar-me ao ouvido ou diretamente na cara, para eu fazer isto ou fazer aquilo. Mas, agora que já passou, estou muito satisfeito por ter concluído a minha recruta.Armando Teixeira-Pinto

Cerimónia do exército Australiano - recruta de Armando Teixeira-Pinto
"O exército australiano tem uma grande tradição no serviço part-time. Como reservista, e para a função específica do meu cargo de Oficial, é esperado de mim que sirva cinco blocos de treino que se estendem por cerca de dois a três anos. Juntamente com esse treino, e em blocos de duas ou três semanas, é esperado que um reservista sirva uma vez por semana, três horas - entre as 7 e as 10 da noite; mais um fim de semana por mês; e, finalmente, duas ou três semanas por ano. Mas há flexibilidade.", informa o Professor-Soldado.
Todas as horas de serviço no exército australiano são pagas e isentas de impostos.Garante, Armando Teixeira-Pinto
Mas para ouvir sobre todas estas questões, opiniões, experiências e aventuras deste Académico-Soldado, incluindo as suas valiosas dicas para os alunos de PhD da comunidade da SBS em Português interessados em estudar na Austrália ou entrarem e vingarem na Academia em Down Under, entre muitas outras coisas interessantes e divertidas de escutar pela boca de Armando Teixeira-Pinto, não deixe de clicar no PLAY, acima neste artigo, e ouvir o podcast na íntegra.
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