Mais de 50% das pessoas com doença de Parkinson tem quedas recorrentes que geram consequências como lesões, medo de cair, restrição das atividades cotidianas, além de altos níveis de estresse do cuidador.
Pessoas com doença de Parkinson caem com mais frequência ao caminhar devido a fatores internos, como o congelamento da marcha e fatores externos como tropeções e escorregões, principalmente ao ar livre.
Esses dados estão na introdução de um estudo publicado recentemente, desenvolvido pelo Neuroscience Research Australia, instituto vinculado à Universidade de New South Wales (UNSW), em Sydney.
O estudo foi feito por um brasileiro, o professor, pesquisador e doutor Paulo Pelicioni, acadêmico da Escola de Ciências da Saúde (School of Health Sciences) da UNSW.
O que chama a atenção no estudo é que ele investigou o efeito de uma intervenção de atividade física combinando videogames para adultos e um treino de tropeços e deslizes para reduzir quedas em pessoas com doença de Parkinson. Foi observado que a exposição a esse treinamento reduziu a ocorrência de quedas testadas em laboratório.
Quedas causadas pela doença de Parkinson
Segundo Paulo, em matérias e estudos antigos a doença de Parkinson era muito associada com o tremor nas mãos, mas hoje se sabe que a doença de Parkinson é muito mais do que isso.
“Ela leva a uma lentidão global do movimento, a um comprometimento do equilíbrio corporal e do andar. Pessoas com Parkinson apresentam uma perda de 70% a 80% dos neurônios que produzem dopamina. Essa falta de dopamina faz com que o movimento seja prejudicado, o que torna essas pessoas mais suscetíveis a cair, assim como movimentos externos como tropeções e escorregões”.
Sobre possíveis tratamentos para que essas quedas sejam evitadas em pessoas com doença de Parkinson, Paulo diz que algumas drogas como a levodopa são prescritas para atenuar os sintomas motores da doença, mas que ainda não há muitos estudos relacionados às quedas.
“No momento, os pesquisadores estão tentando investigar o efeito dessas medicações e, pelo menos em idosos saudáveis, há várias pesquisas demonstrando que a prática de atividade física leva à redução de quedas em idosos”.
Paulo diz que essas pesquisas o motivaram ao estudo desenvolvido durante seu doutorado na Universidade de New South Wales.
“Nós pensamos que se expuséssemos pessoas com doença de Parkinson a situações complexas, como tropeços e escorregões várias vezes durante uma sessão, essas pessoas poderiam aprender a lidar com esses tropeços e escorregões e, com isso, recuperar seu equilíbrio e não cair mais”.

As pessoas com Parkinson que participaram do estudo foram expostas à repetição de tropeços e escorregões para aprender a recuperar o equilíbrio. Source: Supplied
Segundo Paulo, a ideia de utilizar videogames no estudo de prevenção de quedas de pessoas com doença de Parkinson surgiu há aproximadamente 20 anos dentro do laboratório do qual faz parte. Ele cita um videogame específico chamado “Dance Dance Revolution”, encontrado em alguns shopping centers do Brasil, no qual as pessoas pisam em um painel e há setas apontando para várias direções, com o acompanhamento de uma música.
“Os pesquisadores acharam interessante porque esse videogame utiliza vários fatores que podem estar associados com quedas, como o tempo de reação, o trabalho de cognição e a complexidade do movimento. No passado ele fizeram um teste utilizando esses componentes e esse teste apresentou uma correlação muito grande com quedas. Foi decidido então fazer um game baseado nessa técnica”.
Paulo conta que juntamente com um engenheiro de games do Instituto e com outros pesquisadores, eles desenvolveram alguns games baseados em videogames antigos, como o Dance Dance Revolution e jogos antigos como Tetris e Space Invaders”.
“Ao invés de jogar com o controle nas mãos, os participantes do estudo utilizaram um painel no qual eles tinham que realizar passos rápidos e seguros para jogar esse videogame. Então, ao mesmo tempo que eles se divertiam, eles realizavam esses passos rápidos e seguros para que o seu equilíbrio e o tempo de reação melhorassem com a prática desse videogame”, explica.

No videogame utilizado no estudo, os participantes realizaram passos rápidos e seguros para que o equilíbrio e tempo de reação melhorassem com a prática do jogo. Source: Supplied
No estudo desenvolvido pelo Paulo junto a uma equipe durante o doutorado dele em Sydney, foram recrutadas 44 pessoas com doença de Parkinson que foram separadas em dois grupos. Em um deles, chamado de grupo controle, os participantes não fizeram nenhuma atividade extra, apenas seguiram com as atividades do dia-a-dia. No outro grupo, eles realizaram a prática de atividades jogando videogame.
“Depois de 4 e 8 semanas, eles vieram para o Instituto, Neuroscience Research Australia, e foram expostos a escorregões e tropeços 24 vezes em cada sessão para que eles aprendessem a lidar com essa situação, caso ocorresse no dia-a-dia. Eles tiveram o videogame em suas casas por 12 semanas. Então nós fizemos uma avaliação antes e uma avaliação depois de 12 semanas para verificar o efeito dessa intervenção combinada, como nós chamamos, combinando videogame em associação com essa série de tropeços e escorregões dentro do laboratório”.
Paulo diz que ele e os outros pesquisadores ficaram felizes com o resultado do estudo. “Quando submetemos essas pessoas com doença de Parkinson a tropeços e deslizes dentro do laboratório, aquelas que participaram da intervenção combinada tiveram menos quedas no total. E quando nós olhamos para quedas específicas de tropeço e deslize, elas foram quase que majoritariamente reduzidas para o grupo de intervenção em comparação com o grupo controle. No total, eles melhoraram essas quedas quando testadas dentro do laboratório”.
Estudo complementar
Segundo Paulo, nesse estudo, apesar de ter sido feito todo um cálculo estatístico para levantar o número adequado de participantes, a variável de desfecho, como se fala na área científica, foi a variável de cair dentro do laboratório.
“Nós queremos agora testar e desenvolver um estudo maior para testar se essa intervenção é eficaz para reduzir a queda de pessoas no dia-a-dia, não só dentro do laboratório, mas fora também. Para isso nós precisamos formar um tamanho amostral de mais participantes. E esse estudo, nesse caso, teria que ser bem maior. Mas o que fizemos até agora é um bom começo e nos dá bastante esperança de que esse possa ser um dos passos para reduzir quedas na população de pessoas com doença de Parkinson em geral”.
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