O jiu jitsu chega às escolas de Sydney

Jiu Jitsu para crianças

Os instrutores ressaltam o caráter pacífico da prática. A a auto-defesa é a base. Source: Supplied/Kalil Gibran

Instrutores brasileiros fazem trabalho com crianças a partir dos 5 anos. Objetivo é a atividade física aliada e prevenção do bullying


Quem mora em uma cidade grande na Austrália já pôde perceber que as academias de jiu jitsu brasileiras estão por toda parte. E este sucesso agora se aprofunda com o esporte se tornando também ferramenta anti-bullying nas escolas e comunidades.

Há três anos na Austrália, o instrutor brasileiro Thiago Henrique Silva está começando um programa de jiu jitsu na escola pública de Killarney Heights, nas Northern Beaches de Sydney.

Ele trabalha com a faixa etária a partir dos 5 anos, junto de uma creche para crianças pós-aula no local.

Thiago ressalta o caráter pacífico, de auto-defesa e que une a atividade física ao trabalho mental que a modalidade pressupõe.

"O primeiro é a parte física, independente das faixas etárias temos que preparar o corpo das crianças para receber aquele estímulo diferente baseado em alavancas, empurrão. Se alguém a empurrar, como ela deve cair no chão. Isso é muito importante. Com as crianças mais novas a gente pode mostrar pouquíssimas técnicas. A gente demonstra, mas não coloca pra praticar. Se alguém segurar na sua mão, você pode fazer isso, se alguém segurar na sua camiseta, vocë pode fazer aquilo. São movimentos que passam longe de machucar uma pessoa, bem básicos, para criança."

 O trabalho de Thiago Silva na escola faz parte de um projeto maior chamado Brazilian Jiu Jitsu School Australia, o BJJSA.

O programa é capitaneado pelo professor e atleta Kalil Gibran, com carreira em Abu Dhabi e hoje vivendo em Sydney.

Segundo Kalil, tudo começou em Parramatta com a inclusão social como foco.

 "Quando chegamos de Abu Dhabi, chegamos com a ideia de espalhar o jiu jitsu pelas escolas e comunidades, especialmente nas comunidades mais carentes, com problemas de relacionamento na comunidade, dentro de casa ou nas escolas, com dificuldades de aprendizado, com possibilidades de abandonar a escola",.

Para Kalil Gibran, os valores que a luta propõe aos praticantes coincide com os valores escolares.

"A gente entregava workshops de um dia, ou dois dias, só para introduzir o jiu jitsu, o que era, baseado no que são os princípios, das lutas marciais, do bushido, do respeito, honestidade, paciência, perseverança. Então utilizando destes princípios como valores principais da escola, mas usando o jiu jitsu como uma ferramenta de comunicação, de aprendizado, ensinando a luta, mas não só uma luta, a aprender a abrigar. Mas como uma ferramenta para este aprendizado". 

Há dois tipos de programa feito pelo BJJSA.

O primeiro são projetos fechados durante o bimestre escolar, por oito semanas, que já foi desenvolvido em ao menos cinco escolas da Zona Oeste de Sydney.

As escolas selecionam entre 10 e 20 alunos para praticar os princípios do jiu jitsu.

Outro é durante o chamado afterschool, quando as crianças permanecem na escola depois das aulas, sob os cuidados de uma creche.

Kalil Gibran explica que as crianças mais jovens têm o foco na atividade física, com o aprimoramento sendo mais forte a partir dos 8 anos de idade.

 "A principal diferença seria sobre o uso dos jogos. São praticamente bem parecidos entre as crianças com menos de oito ou dez anos. Depois disso, a gente usa sempre jogos, focados nas atividades do grappling. Quando não podemos ensinar a aula, principalmente sem o tatame, usamos variações de jogos, sempre tentando utilizar o jogo pra ser um aprendizado mais divertido, sempre focando na educação, no ensino. É provado que as crianças aprendem melhor e retêm melhor a informação quando conseguem reconhecer a técnica que estão usando através dos jogos".

O jiu jitsu ainda assusta muitas pessoas pela associação com o UFC, onde há lutas violentas da qual o jiu jitsu é uma das modalidades mais praticadas. Mas Thiago Silva ressalta a importância de se separar a luta da defesa pessoal e auto-conhecimento, que, segundo ele, são os princípios que norteiam a arte marcial, antes de tudo.

 "Quando se fala em jiu jitsu para defesa pessoal e o jiu jitsu de competição, são coisas totalmente diferentes. E mesmo em competição não é agressivo, não tem soco, não tem pontapé. Ele é mais complexo quando se trata de competição. É violento, de repente, pra quem não entende, porque usa torções, pressão, controle das articulações. Ele tem sua base na defesa pessoal. Problema é conhecimento, nada a ver com violência, pelo contrário. É um esporte que agrega a saúde, inclusive a mental, porque você precisa usar bastante seu cérebro para entender aquele quebra-cabeça. E esse é o papel de nós, praticantes, que se propõem a ensinar, divulgar e espalhar isso". 


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