Estão apurados 142 casos reportados oficialmente na costa portuguesa em três anos (2020-2022) de um total de 456 ocorridos entre as águas francesas do golfo da Biscaia, a norte, e as espanholas do estreito de Gibraltar, a sul.
Os mais afetados são sobretudo pequenos veleiros de monocasco e catamarãs, em média com não mais de 15 metros, com lemes de madeira ou materiais facilmente danificados pela força destes cetáceos, que chegam a seis metros de comprimento e mais de três toneladas de peso. Além disso, estes delfinídeos conseguem nadar à mesma velocidade média destas embarcações — cerca de 6-7 nós.
Os investigadores continuam sem explicações para estas interações com pequenas embarcações. Sabem apenas que é um comportamento repetitivo, sobretudo associado a 15 indivíduos da população de orca ibérica e que nunca foi registado em mais nenhuma outra população desta espécie em lado nenhum do mundo, explica Marina Sequeira, especialista em cetáceos do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
A escassez de alimento e a competição por espaço no seu habitat natural, dada a sobrepesca e a proliferação de barcos no mar, podem estar entre as explicações para as interações que se têm avolumado nos últimos três anos. Mas esta é apenas uma hipótese, por verificar.
Mal-afamadas como “baleias assassinas” pela forma como caçam algumas das suas presas, são descritas como tendo capacidade para sentir e analisar o ambiente que as rodeia e aprender e ensinar aos mais novos os métodos de caça e outros comportamentos, ou não fossem dos mais inteligentes mamíferos marinhos e os que ostentam o maior cérebro.
As orcas ibéricas são um cetáceo ameaçado de extinção,
O risco de extinção desta população de orca ibérica deve-se ao facto de se contarem menos de 50 exemplares e a mortalidade neonatal ser elevada. As Orcinus orca ibéricas estão distribuídas por seis comunidades com uma estrutura matriarcal e socialmente complexa. Umas chegam a ter meia dúzia de famílias, outras apenas uma, e a elas juntam-se alguns elementos errantes.
Parecem iguais a quaisquer outras da sua espécie, todas exibindo o dorso preto azeviche, com manchas brancas que funcionam como a sua impressão digital — não há duas iguais.
Mas distinguem-se de outras populações geneticamente, em tamanho e em hábitos alimentares. A orca ibérica é ligeiramente mais pequena (4 a 6 metros de comprimento) do que a das águas norueguesas e islandesas, por exemplo, cujos machos chegam a nove metros de comprimento, com a barbatana dorsal a elevar-se 1,5 metros.
E, enquanto as do Ártico têm técnicas especiais para caçar leões-marinhos, as ibéricas deslocam-se nas águas frias do Atlântico Nordeste, entre o golfo da Biscaia e o estreito de Gibraltar, atrás do seu manjar predileto: o atum rabilho, outra espécie em risco de extinção.
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