Juntamente com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta escreveu uma obra absolutamente sem precedentes na história da literatura e do feminismo em Portugal, Novas Cartas Portuguesas, cuja publicação em 1972, num país ainda profundamente mergulhado numa ditadura conservadora e isolacionista, provocou estrondo nacional e internacional.
A reacção da censura ao conteúdo libertário da obra, os interrogatórios da polícia política PIDE e o processo judicial que se lhes seguiu atraíram as atenções internacionais. Através de um amigo de Maria Isabel Barreno, três exemplares das Novas Cartas Portuguesas seguiram para França, ao cuidado das escritoras Simone de Beauvoir, Marguerite Duras e Christiane Rochefort.
O julgamento chegou a merecer as atenções de jornais como o New York Times e o Le Monde, transformando o episódio num caso de estudo do internacionalismo feminista. Reeditada em 2010, a obra vem sendo lida e relida por sucessivas gerações de feministas.
Este livro, editado pelos Estúdios Cor, sob direção da também audaz poeta Natália Correia, o volume criado a seis mãos, e livremente inspirado nas Lettres Portugaises de Mariana Alcoforado (1640-1723), incomodou ‘os bons costumes’ da ditadura fundada por Salazar, que não perdoava às mulheres a escrita erótica e assim conheceu uma história atribulada, com a instauração de um processo judicial às três autoras, acusadas de terem escrito uma obra de “conteúdo insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública”.
O julgamento das "Três Marias" começou a 25 de Novembro de 1973 e terminou a 7 de Maio de 1974, duas semanas depois da Revolução do 25 de Abril – o processo deixara de fazer sentido no país que celebrava a liberdade.
Nascida em 1937 em Lisboa, onde frequentou a Faculdade de Letras, Maria Teresa Horta estreou-se na poesia em 1960, com "Espelho Inicial". No ano seguinte participou com "Tatuagem na revista Poesia 61", e tem a sua obra poética coligida em "Poesia Reunida" (2009). Publicou, posteriormente, "Poemas para Leonor" (2012), "A Dama e o Unicórnio" (2013), "Anunciações" (2016), "Poesis" (2017), "Estranhezas" (2018) e, entre várias outras obras, a antologia pessoal "Eu Sou a Minha Poesia" (2019).
Escreveu toda a vida, quase sempre sobre o corpo, o desejo, a sexualidade no feminino, tal como integrou movimentos ligados à luta pelos direitos das mulheres.
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