O número de brasileiros com autorização de residência a viver em Portugal aumentou 43% de 2018 para 2019.
Em números totais, os brasileiros chegam agora quase aos 151 mil, o maior número de sempre. Em 2018 eram 105.423. Há cinco anos, apenas 82 mil.
Esta subida acompanha o crescimento do número total de residentes estrangeiros em Portugal, que ultrapassou pela primeira vez a barreira do meio milhão: são 580 mil. Os brasileiros representam, assim, um quarto do total.
Desde a destituição da Presidente Dilma, em 2016, e da recuperação económica de Portugal, que se tem notado um aumento de brasileiros com perfis diversificados. No início de 2000 a imigração brasileira estava focada no trabalho e tinha perspectiva de retornar ao Brasil. O trabalho exercido nem sempre correspondia às suas qualificações, a maioria trabalhava na restauração, construção civil e outros serviços. Essa vaga para trabalhar nunca desapareceu, mas vai sendo progressivamente substituida pornovos perfis,
Estão a chegar cada vez mais estudantes para o ensino superior.
Na área do empreendedorismo, muitos abrem empresas que, por sua vez, empregam pessoas.
Hátambém ativistas políticos e de direitos humanos, profissionais qualificados que não encontram trabalho na sua área e têm dificuldade com o reconhecimento do seu diploma mas também que a entidade empregadora reconheça o seu percurso profissional, analisa a presidente da Casa do Brasil, Cyntia de Paula, que explica:” Os discursos de migração mudaram: não vêm só para ganhar dinheiro, mas para ganhar qualidade de vida”.
Há tambem um fenómeno que se destaca na nova vaga migratória: a chegada de famílias. Duval Fernandes, demógrafo, professor da Pontífice Universidade Católica de Minas Gerais, que está a fazer um projecto de investigação sobre a nova vaga migratória de brasileiros em Portugalconstata que há uma maior presença de famílias que chegam em conjunto.
Há quem considere a vinda para Portugal como um refúgio. Será o caso de Paulo Illes, 44 anos, militante na área das migrações e dos direitos humanos desde 2004, ex-seminarista envolvido na luta contra o trabalho escravo, foi coordenador da política para imigrantes na prefeitura de São Paulo, com Fernando Haddad, entre 2013 e 2016. Chegou a Lisboa em Março do ano passado. Filiado no Partido dos Trabalhadores, diz-se autor de políticas que beneficiaram os imigrantes, mas que prejudicaram quem os explora, e sentiu-se perseguido quando terminou o mandato.
Sobre a presença de brasileiros em Portugal diz ao diário Público que “é perceptível que há um aumento no fluxo” e consegue identificar a existência de “um grupo de exilados”, do qual faz “parte”. “Há, acrescenta, pessoas que vêm para a academia, mas no fundo vêm-se exilar porque há uma pressão muito forte em relação aos professores progressistas, esse sentimento de estarem a ser vigiados”, diz. Ainda não consegue identificar qual é a dimensão desse grupo, “mas é um número expressivo.” Porque escolhem Portugal? “Pelo idioma, pela proximidade cultural, pela documentação”, responde. “É mais fácil para nós, brasileiros, inserirmo-nos em Portugal do que em outros países da região europeia. E há muitos netos de portugueses.” Este é um grupo que tem conseguido integrar-se e “inclusive participar e actuar na vida política de Portugal”, acrescenta Paulo Illes.
150 mil brasileiros em Portugal é em numeros redondos o atual dado oficial, mas estima-se que haja pelo menos mais 50 mil ainda sem autorização de residência.
A seguir ao Brasil, a outra maior comunidade estrangeira em Portugal é a de Cabo Verde. Em 3º lugar, os britânicos. Certamente por efeito do processo de Brexit o número de britânicos em Portugal cresceu 25% no último ano.
Mas o crescimento que é visível é o de brasileiros. O sotaque brasileiro é hoje frequente em qualquer lugar de Portugal. De um modo geral, com sensação de bom acolhimento.