O encontro de Saramago com Lygia Fagundes Telles

Lygia Fagundes Telles, em Paris em 1991

Lygia Fagundes Telles, em Paris em 1991 Source: Louis MONIER/Gamma-Rapho via Getty Images

Há uns 20 anos, numa conversa que também metia o Nobel Saramago, numa Feira do Livro do Rio de Janeiro dedicada à literatura de Portugal, Lygia Fagundes Telles desabafava assim connosco: “Sofri muito, quando, nova, me apresentei como escritora. As pessoas não acreditavam. Mulher era para casar, ser rainha da casa, no máximo tocar piano. Escritora? Isso era de homens”.


Mas Lygia impôs-se escritora, reconhecida como a grande dama da literatura brasileira, membro da Academia Brasileira de Letras desde 1985.

Viria a ser distinguida com o Prémio Camões em 2005. Foi indigitada para o Nobel da Literatura (que não lhe deram, terá ficado o prémio a perder, como dizia precisamente Saramago).

O livro mais reconhecido de Lygia Fagundes Telles é “Ciranda de Pedra”, que seria adaptado para uma telenovela de sucesso nos anos 80 com Lucélia Santos, Armando Bógus e Eva Wilma. Escreveu “As Meninas”, que seria adaptado ao cinema por Emiliano Ribeiro, e que conta a história de três mulheres jovens durante a ditadura militar do Brasil, que sempre combateu ativamente dando a cara e o nome em manifestos e manifestações de intelectuais.

Lygia publicou livros de contos, como “O Cacto Vermelho”, que se tornaram a sua imagem de marca. Escrevia sobre o que melhor conhecia: a classe média branca e citadina. E disse um dia numa entrevista que nenhuma pessoa é “completamente má ou boa, está tudo misturado e a separação é impossível. O mal está no próprio género humano, ninguém presta. Às vezes a gente melhora. Mas passa”.

Viveu 98 anos, continua a viver nos livros.






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