Os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams entraram na atmosfera da Terra após nove meses, 286 dias, em órbita.
A filmagem da descida deles pode parecer calma, mas dentro da espaçonave, foi algo longe disso.
O astronauta britânico Tim Peak descreve o que a dupla provavelmente vivenciou. "São cerca de 1600 graus Celsius fora da nave espacial. Você pode ver o plasma envolvendo toda a nave espacial pelas janelas. Então fica muito quente lá dentro".
Outro ex-astronauta, o americano Scott Kelly, certa vez descreveu o retorno da gravidade como "lento no início, e de repente ele chega com força total". Segundo ele, "a respiração se torna difícil, à medida que a força gravitacional (força G), prende a traqueia".
Houve um alívio quando os astronautas desembarcaram da nave espacial.
Mas especialistas dizem que a dupla tem uma recuperação longa e intensa pela frente por causa de como a viagem espacial impacta o corpo e a mente.
A Dra. Rebecca Allen é codiretora do Instituto de Tecnologia e Indústria Espacial da Universidade de Tecnologia Swinburne, em Melbourne, na Austrália. "Nosso músculo mais importante, o coração, bombeia sangue de forma diferente no espaço porque os fluidos não fluem, é claro, sem gravidade. Nossa função do sistema imunológico, nosso microbioma intestinal, até mesmo nosso DNA muda".
Os fluidos corporais se movem para cima quando estamos no espaço, e isso pode pressionar os olhos e causar problemas de visão.
Há menor absorção de nutrientes e maior exposição à radiação, o que pode danificar nosso DNA e aumentar o risco de câncer.
Na estação espacial, os astronautas se exercitam rotineiramente usando dispositivos especializados para correr, pedalar e levantar pesos.
Mesmo assim, segundo Rebecca Allen, sem a força constante da gravidade, a massa muscular se deteriora e os ossos podem se quebrar.
"Nossos músculos ficam fortes porque estão acostumados a nos segurar contra a gravidade. Quando você tira isso, eles não têm mais essa resistência para construir força, e então eles se deterioram muito rapidamente. Mas também os ossos aos quais eles estão presos, eles não têm essa tração contínua dos músculos sobre eles, então nossos ossos também começam a quebrar".
A boa notícia é que a maioria das mudanças são temporárias. A reabilitação física e psicológica intensa é necessária após o retorno dos astronautas à Terra.
Missões espaciais de longa duração exigem que os astronautas vivam em ambientes confinados e isolados com interação social limitada.
O doutor Brad Tucker, astrofísico e cosmólogo da universidade The Australian National University, fala sobre essa transição.
"O mundo inteiro tem d ecerta formaobservado os astronautas, que foram aparentemente deixados no espaço e presos lá por uma missão prolongada. Agora eles têm que acordar, fazer café da manhã e ficar presos no trânsito indo para o trabalho. É uma transição difícil para alguns astronautas. Recuperar a vida pessoal que eles perderam por nove meses. Eles estavam planejando apenas duas semanas de distância, mas perderam aniversários e outros acontecimentos, e também a logística e a administração da vida, que eles agora têm que recuperar".
A dupla não detém o recorde de maior tempo no espaço. As missões à ISS, Estação Espacial Internacional, na sigla em inglês, geralmente duram seis meses, embora alguns astronautas fiquem em órbita por até um ano.
Com a ambição de chegar a Marte, os astronautas terão que ficar no espaço por muito mais tempo.
Brad Tucker diz que uma viagem de ida e volta a Marte deve levar três anos.
"Acho que essa é a parte não contada da viagem espacial: Como fazemos os humanos sobreviverem à viagem? Como resolvemos todos os problemas de saúde, os problemas psicológicos, os suprimentos de comida? Não podemos enviar uma missão de reabastecimento para Marte".
Viagens prolongadas ao espaço, como a de Butch Wilmore e Suni Williams, serão a chave para entender essas questões.
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