Idade média da população europeia: 43 anos; idade média da população africana: 19 anos. Há que ter em conta este fosso de 24 anos na idade média da população de continentes vizinhos. Já estiveram ligados pelo colonialismo, pela escravatura e, em muitos casos, pela apropriação ilegítima de bens.
A economista Aminata Touré, 62 anos, é ex-primeira ministra do Senegal, e atualmente presidente do conselho económico e ambiental deste país africano com história democrática.
Aminata, numa conferência em Madrid, diz que será preciso que líderes dos dois continentes se decidam a um diálogo inteligente e sereno para tratar um problema que é dos dois lados, e que está a crescer em dimensão grave.
África tem demasiados jovens, e os países não têm trabalho que lhes dê sustento e horizonte, por isso, deixam-nos partir.
Mas como a Europa está a fechar fronteiras à migração africana, estes jovens recorrem à viagem clandestina. É um drama com episódios trágicos.
Há números de agora: só nos dois dias deste natal, 24 e 25 de dezembro, chegaram ao arquipélago espanhol das Canárias, 791 migrantes africanos.
Viajaram em 13 barcos, ou barcaças. A maior parte chegou à ilha de Hierro. Alguns ao Puerto de los Cristianos, em Tenerife. Também a maior parte tinha embarcado na Mauritânia, mas também barcaças que tinham partido do Senegal.
Quatro destas foram socorridas pelo salvamento marítimo espanhol que transportou todos para terra – alguns tinham ambulância à espera para os conduzir ao hospital.
Nos primeiros 360 dias deste ano – faltam 5 para terminar - chegaram às Canárias, por mar, em viagem clandestina 47.712 migrantes africanos.
Também chegaram cerca de 600 às Baleares, estes em travessia pelo Mediterrâneo, a partir da Argélia.
A Espanha não recusa os migrantes, está a acolhê-los a todos, mas está no limite. Entra aqui uma questão: quantos não chegaram? Quantos serão os os náufragos com morte invisível?
Uma ONG espanhola, a Caminando Fronteras, avançou ontem um número estremecdor: 10.457 migrantes mortos no mar só neste ano, nas rotas que levam às ilhas espanholas. Muitas dessas vitimas são mulheres e crianças.
A ONU, através da Organização Internacional das Migrações, calcula um número de mortes 7 vezes mais reduzido – mesmo assim tremendo – 1400 vidas migrantes perdidas no Atlântico, nas rotas para Espanha, só neste ano.
A ONU dá elementos para explicar a discrepância: apenas contabiliza mortes confirmadas.
A Caminando Fronteras recorre a estimativas – parte de casos de pessoas que partiram e não há registo que tenham desembarcado em algum destino europeu.
Volta a questão: há um problema, é um drama, muitas vezes tragédia – que precisa de tratamento – é esta das migrações. Uma onda que arranja sempre por onde entrar. Reentra aqui o apelo lançado em Madrid pla ex Primeira Ministra do Senegal: tem de haver diálogo euroafricano para acautelar o interesse de todos.
A demografia europeia, muito envelhecida, precisa dos jovens, mulheres e homens, que chegam de África – como de outros lugares – mas com conta peso e medida.
Por isso, é preciso favorecer o apoio para que África transforme a fértil riqueza natural que tem, em oportunidades, em trabalho com esperança, com futuro, para que os jovens africanos deixem de ter a necessidade obsessiva de migrar.
É um entendimento que interessa aos dois continentes com longuíssima relação. E agora – com esta questão principal que é a dos movimentos descontrolados de pessoas. Por necessidade, porpobreza, muitas vezes para fugir de guerras, da seca e da fome.
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