Os primeiros 25 anos deste século 21

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Francisco Sena Santos fala sobre grandes acontecimentos mundiais no primeiro quarto do século 21. Source: AAP / Julien de Rosa/EPA

Faz agora 25 anos, final de dezembro de 99. Por toda a parte havia balanços. Não eram os do ano nem sequer da década – os anos 90 que tinham sido ricos. Era a revisão do século – o vigésimo, ou até a do milénio. Ainda que faltasse um ano para virar a folha.


Nesse tempo tínhamos o júbilo da (finalmente) boa resolução de um post scriptum da atribulada descolonização portuguesa. Timor Leste tinha conseguido escolher, e no referendo votou de modo maciço pela independência tornou-se embora com sobressaltos – país livre, democrático.

Era em Portugal o tempo de Jorge Sampaio presidente, Antonio Guterres primeiro-ministro – não se imaginava que viria a ser reconhecido nº1 na ONU. Teve como sucessor na chefia do governo Durao Barroso que também viria a ser por 10 anos internacionalizado como nº1 na Comissão Europeia.

E então – neste quarto de século passado – o que é que nos aconteceu? É um tempo que começou com os eleitores dos Estados Unidos a escolherem Bush Filho para presidente, enquanto na Rússia, um antigo agente secreto no KGB, ex-presidente da Camara de S. Petersburgo, Vladimir Putin, se tornava – em agosto de 99 - primeiro-ministro da Rússia, depois em maio de 2000 – presidente. E assim continua a ser.

Não parecia de inicio que a personagem – até acolhida no G8 - fosse a criatura sinistra que se revelou neste quarto de século. Um tempo que geopoliticamente começa em 11 de setembro de 2001 com a infâmia dos atentados da Al Qaeda nos Estados Unidos.

Foi o começo de uma era de golpes terroristas que levou ao califado do autodesignado Estado Islâmico. Passou pelos atentados de 11 de maço de 2004 nos comboiois de Madrid ou pelo terrivel 2015 em Paris – com o pavor no Charlie Hebdo depois no Bataclan.

O mundo mudou, abriu-se a partir do Afeganistão, depois o Iraque, um infinito labirinto de guerras – com o mapa do Medio Oriente a ferro e fogo. Houve em 2011 a ilusão de uma primavera árabe – afinal intstalou-se mais inverno. Milhões de refugiados.

Aconteceu a barbárie do Hamas de 7 de outubro de 23. E em retaliação Netanyahu com os sem memória de Israel desencadeou um imparável genocídio que faz de Gaza um cemitério a ceu aberto.

Neste quarto de século o mundo teve 3 papas. Depois de 27 anos com o polaco Woytyla João Paulo 2, o alemão Ratzinger foi Bento 16, e desde 2013 habemos papa argentino Bergoglio é o papa Francisco a abrir a igreja católica.

É um quato de século de avanço da globalização – transformou o oriente, aproximou-nos da China que se abriu. A Europa conseguiu o acordo que instalou a moeda única. Falta a coesão com valores europeus (foi possível – sentir uma amostra na pandemia covid).

Um operário metalúrgico chegou a presidente no Brasil – Lula com um plano para tirar milhões de pessoas da fome. A democracia recuou perante autocracias – da Venezuela ao leste da Europa. Em 2008 – yes we can – foi possível a América eleger um presidente negro – mas depois de Obama veio Trump.

Este é um quarto de séulo em que a nossa vida passou a dispor de ferramentas extraordinárias. Em 15 de janeiro de 2001a rede www – abriu-se à wikipedia, Enciclopédia colaborativa usada e abusada para o saber global.

Veio o iPod que nos abriu o caminho para os podcasts – que ampliam o áudio da rádio e acrescentam criação. Apareeu o kindle com todos os livros num ecrã, a Netflix pos-se em 2008 a mudar a tv, as redes sociais propagaram-se -dominantes e controversa – também usadas e abusadas. A inteligência artificial instalou-se, temos o Chat GPT.

Que extraordinária mudança neste quarto de século. O jornalismo avança online – por entre crises. Generalizou-se neste tempo a batalha contra a violência de género. O metoo – é um coro que fez terramoto em sociedades patriarcais do abuso. Ganhou força o poder da mulher.

O mundo está a despertar para a realidade das alterações climáticas – emergência global. A arte urbana propaga murais de street art – de Banksy ao português Alexandre Farto, Vhils. Novos museus, novas galerias. Descobrimos a arte de Jeff Koons, de Kiefer, de Hârstt, Olafur Eliasson, liberta-se a de Ai Weiwei

Sucedem-se primeiros dias do resto da vida. Temos Sergio e teremos sempre Zeca, Fausto Adriano Ze Mario. O fado mudou – a redescoberta de Amália tinha Carlos do Carmo trouxe Carminho Camane e tantos mais. Tantas novas vozes – sim a garota não, Maru, Capicua – tantas mais. Salvador sobral nº 1 na Eurovisão.

Tivemos um arquiteto africano, Francis Kere – da grande África que desperta na galeria Pritzker, que tem Siza e Souto Moura. A geração oliveira – tem sequência com Miguel Gomes e outra nova geração de cineastas. Ja tínhamos Almodovar, temos Cuaron, temos Nolan, Wes Anderson, Lanthimos – e tanta gente mais com esta arte.

Uma misteriosa Elena Ferrante – com biografia desconhecida, rosto invisível – mas pseudónimo com vida própria, é fenomeno literário com A Amiga Genial. Em Portugal, o fenômeno que vem das redes, Maria Fancisca Gama.

Já tínhamos os prodígios de Lidia Jorge – que nos trouxe Misericordia – temos também preciosa Dulce Maria Cardoso. Paul Auster deixou Baumgarten. Há para encontrar ou descobrir a argentina leila guerriero – a não perder a chamada. Também explorar a grande literatura do romeno Mircea Cartarescu. Há Anne Aplebaum, há Claudio Magris teremos sempre Enzensberger a explicar-nos o mundo.

E assim chegamos a 2025, com Elon Musk, o mais rico da galáxia, presidente não eleito na América de Trump, com agenda que sobressalta.

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