Embora a existência biológica de Eça tenha terminado em 1900 – quando ainda faltavam 10 anos para Portugal, depois de um regicídio, passar de reino a república -, o autor de “Os Maias” há muito tinha conquistado a posteridade e chegou agora ao “lugar solene dos imortais”, nas palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Eça de Queiroz faleceu aos 54 anos em Paris, onde naquele tempo, 1900, era cônsul geral de Portugal. Apesar do seu trabalho como diplomata, teve tempo para criar um dos melhores legados da literatura portuguesa do século XIX. “É o escritor que revela os nossos vícios e quem melhor denuncia os nossos defeitos coletivos”, sublinhou o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco.
A sátira foi um dos seus traços, que cultivou tanto nos escritos jornalísticos como em encontros como o formado pelo grupo Vencidos da Vida, onde se integraram alguns dos mais brilhantes intelectuais daquele século, como o historiador Joaquim Pedro Oliveira Martins ou do escritor José Duarte Ramalho Ortigão, com quem escreveu O Mistério da Estrada de Sintra, publicado em cartas anónimas no Diário de Notícias durante o Verão de 1870.
O próprio Eça de Queiroz foi uma personagem cheia de contradições e extravagâncias. Vestia-se como um dândi e vivia acima das suas posses. Escolhia mansões caras para as férias de verão e ficava alojado em hotéis luxuosos sempre que viajava. A sua asfixia económica, apesar do salário oficial e dos rendimentos literários, foi permanente.
Eça de Queiroz fica agora evocado no Panteão ao lado de outros portugueses que foram protagonistas na política ou na cultura, entre outros, uma fadista (Amália Rodrigues), um jogador de futebol (Eusébio) e um general assassinado por combater a ditadura (Humberto Delgado), também outras glórias portuguesas da literatura, de Almeida Garrett a Sophia de Mello Breyner.
Na sessão institucional no Panteão participaram as mais altas autoridades do país. Durante uma longa cerimónia, atores e académicos leram trechos das suas obras mais famosas como “O Crime do Padre Amaro” ou “As Farpas”, enquanto uma guarda de honra escoltava o caixão. No meio da pompa, o escritor e presidente da Fundação Eça de Queiroz, Afonso Reis Cabral, lembrou que Eça de Queiroz “chega ao Panteão carregado aos ombros das pessoas que tanto o leram: “Continua a ser lido no século XXI, traduzido, estudado por académicos, mas também foi caricaturado, levado ao teatro, transformado numa estátua e até numa figura pop”. Concluiu, “é a prova da posteridade de Eça de Queiroz”.
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