A cultura é um dos traços mais profundos da identidade de um povo, formada por histórias, tradições e modos de viver. Mas ela também pode atravessar fronteiras, sendo vivenciada, explorada e compartilhada por quem não nasceu ou cresceu imerso nela.
Brasilidade sem Fronteiras é uma série da SBS em português em que conversamos com apaixonados pela cultura brasileira que vivem na Austrália.
Katya Bogatyreva é uma pesquisadora na área de saúde pública que mora em Melbourne. Ela nasceu na Moldávia, é de família russa, e aos 10 anos de idade se mudou para a Austrália. A infância no país do leste europeu e o contato com a cultura de lá foi o que, muitos anos depois, fez com que ela se identificasse com o forró, ritmo brasileiro que conheceu em 2018 na Noruega, com o Leo Rio, carioca que chegou a ter escola de forró no país, e é pai do seu filho Niko, nascido em Melbourne, que hoje tem cinco anos.
A sanfona é um dos elos da cultura nativa de Katya, nascida na Moldávia, com o forró brasileiro. Source: Supplied
Quando retornou à Austrália, Katya chegou a dar aulas de forró e se apresentar. "Como o Leo era professor, comecei a dar aulas com ele. Hoje não faço mais parte da escola do Leo mas estou aprendendo a tocar sanfona e triângulo e vou a shows de forró aqui. Há algumas bandas muito boas em Melbourne. Sou parte da cultura brasileira em Melbourne porque sou daqui mas amo forró, amo a língua, amo brasileiros. É uma parte da minha vida".
A cultura brasileira tem muito a ensinar ao mundo sobre conexão e aceitação. O forró tem uma conexão muito profunda.Katya Bogatyreva, pesquisadora russa-australiana
"Sempre me senti bem-vinda e por isso foi muito fácil ensinar uma cultura que não é a minha mas é uma cultura que tem muita conexão com outras pessoas. Não importa de qual país, de onde no mundo essas pessoas são. É muito fácil para mim ser parte, aprender e ensinar", explica Katya.
Katya também destaca que considera a cultura brasileira muito rica, pelo contato com suas raízes. Ela diz que aprendeu português ao ouvir e tentar falar. "Claro que passei muitas horas assistindo 'Galinha Pintadinha' com meu filho (risos). E tive uma professora incrível, a Nayana, que não só me ensinou sobre a língua, mas também a gentileza e a amizade que os brasileiros estão sempre prontos a compartilhar".
O filho de Katya, Niko, nascido na Austrália, ao lado do pai Leo, brasileiro, tocando triângulo. Source: Supplied
Quero ir com meu filho ao Brasil. Quero que ele aprenda capoeira, jogue futebol, que tenha amigos brasileiros.Katya Bogatyreva, pesquisadora russa-australiana
Katya diz que está planejando uma viagem com o filho ao Brasil ainda este ano, dessa vez para passarem bastante tempo com a família do pai dele lá, que é grande, com tios, primos e avós. Mas ela também tem planos de viagens ao Brasil com Niko mais a longo prazo: "Quando ele estiver maior, vamos a outros lugares. Quero apresentra a ele a cultura do nordeste e do norte do Brasil. A música, a capoeira, os festivais, festa junina".
Ela afirma que a relação dela com a cultura brasileira vai ser pra sempre. "É parte da minha vida, da minha história, do meu filho. Tem coisas que eu amo muito, como a comida, a língua, as pessoas, meus amigos e até minha família, que é a família do meu filho".
Katya diz acreditar que nunca vai perder contato com o forró. Source: Supplied
Espero que o número de brasileiros continue a crescer aqui e nos aceitar na sua cultura. Sempre me senti bem-vinda e acho isso único e muito bonito.Katya Bogatyreva, pesquisadora russa-australiana
Ao final da entrevista, Katya nos deixa uma mensagem muito forte sobre a cultura brasileira e a importância de a mantermos em nossas vidas, mesmo quando estamos fora do nosso país.
"Eu espero que as famílias que chegam na Austrália não esqueçam seu idioma, suas raízes e passem isso aos seus filhos, e continuem ensinando português aos seus filhos e netos. E que continuem a educar as próximas gerações sobre o quanto sua cultura é rica e bonita. Porque a identidade que as crianças formam com sua história e seus ancestrais é tão importante, e vocês não podem perder isso, porque é uma bela cultura que tem muito a oferecer e a ensinar ao mundo".
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