Este som desta peça coral com 50 vozes foi recolhido por estes dias.
O som reverbera através de 40 colunas de som numa enorme sala no 1º andar do imenso Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra.
No topo da colina fronteira à encimada pela universidade, do outro lado do mondego os altifalantes que nos trazem este som estão posicionados em linha entre o circular e o oval, que acompanha as paredes da ampla sala.
Ao aproximarmo-nos de cada uma das 40 colunas de som – escutamos na nossa intimidade, o concentrado expressivo, a virtuosidade em cada uma das vozes que compõem o conjunto vocal que interpreta este Spem in Alium a tradução do latim vem mesmo a calhar – 'esperança para lá das ameaças'.
É um motete – porque há textos diferentes para cada uma das vozes que coincidem na polifonia – composto por Thomas Tallis, criador da música coral inglesa de catedral ao serviço de reis como Henrique 8º, Eduardo 6º ou Maria 1ª, e que se tornou refúgio e consolo espiritual primeiro para quem assentava no solo teológico reformador luterano, depois para sucessivas gerações de católicos, protestantes e agnósticos.
Esta paisagem musical – alguém comentava que se entrava no tempo de Bach e Goethe – é escutada numa sala principal do mosteiro de Santa Clara-a-Nova, em Coimbra, como uma das peças que integram o solo show da Bienal de Arte Contemporânea.
Aliás – a atmosfera do vetusto enorme mosteiro – os corredores principais com dezenas de acessos medem 200 metros de comprimento – essa atmosfera torna mais surpreendente e intenso o significado das peças que o duo canadiano Janet Cardiff e George Miller criou para esta multifaceta exposição, de facto conforme o título, Fábrica das Sombras. Liga o antigo com o contemporâneo, o real com o imaginário.
O áudio com diferentes formas de som e recurso a múltiplos dispositivos de criação plurimedia.
Numa das instalações somos chamados a dedilhar um teclado para compor a paisagem sonora - é recorrente – no percurso desta exposição gerada pela Bienal de Coimbra.
Na sala antes da enorme com estas 40 colunas – também somos envolvidos por uma instalação: um surpreendente arranjo rotativo do qual suspenden centena e meia de espelhos antigos com molduras em que a par de reflexos sem fim também aparecemos nós – que miramos a Bienal de Coimbra, constata Delfim Leão, vice reitor da Universidade de Coimbra – traz o mundo para a cidade.
É uma perspetiva que vale realçar, está por estes dias em Portugal uma promotora britânica da arte transnacional do pós-guerra.
Tem sido curadora de exposições temporárias no Museu Picasso em Málaga – já por lá passou uma retrospetiva Paula Rego.
Ela enfatiza o valor da arte – ela fala de indústria cultural – na mudança de pele de uma cidade.
Málaga, capital da costa del sol espanhola, era procurada pelo sol, pelas praias e pelas noites.
Passou a ter o Museu Picasso – inaugurado em 2003 – teve 790 mil visitantes em 2024.
Depois há 10 anos abriram extensões de 2 museus de topo pelo mundo – o de São Peterburgo e o Pompidou de Paris.
Kandinski é um protagonista.
Tal como Barceló, Magritte, Kahlo, Chagall. Málaga passou a ser também cidade dos museus, juntaram-se esforços para que a população local seja envolvida na vida dos museus e outros centros de criação artística.
Málaga subiu para os lugares de topo do consumo cultural em Espanha – o município mostra que o investimento feito na criação destes museus está recompensado.
Deu nova pele à cidade da costa do sol – e puxa pelas pessoas, motiva-as.
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