Massimo Cacciari, filósofo e voz histórica do centro-esquerda em itália, presidente, por 12 anos, do municipio de Veneza vê uma surpresa nesta Fratelli Tutti, a nova encíclica do Papa Francisco: desta vez, o Papa não se fica pelos cavalos de batalha destes últimos anos: a luta - contra a pobreza, pelo ambiente, pelo clima, por mais justiça e direitos humanos no mundo globalizado.
Agora, a novidade é a ponte que a igreja deste Papa faz – com algo que até aqui estava no oposto pensamento laico - o conceito de liberdade, igualdade e fraternidade.
O também italiano Carlo Petrini, fundador há 25 anos e presidente do movimento "slow food", também fundador no Piemonte da universidade das ciências gastronómicas (com uma ambição que contrapõe os alimentos naturais de qualidade à cultura dos hambúrgueres), vê nesta encíclica Fratelli Tutti um grande e radical documento social que aborda questões que são problemas decisivos para a humanidade – a saber: o bom acolhimento ao outro – o que vem de fora; a defesa do olhar poliédrico sobre a realidade, conjugando global com local; o multilateralismo; e, sobretudo, o incitamento ao que chama de "milagre da gentileza" com a aceitação do outro – do diverso.
"Precisamos desse milagre: diálogo civilizado, baseado no respeito pela pessoa e plas ideias do outro – mesmo que estejamos em total oposição".
Petrini vê o atual Papa como o líder mais lúcido, fiável, credível, também realista e iluminante no mundo de hoje.
Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Sant’Egidio fomentadora de diálogo, de ajudas e de pazes, de Moçambique à Colombia, nota que esta Encíclica vai buscar o antigo apelo cristão, ao mesmo tempo ingénuo e sábio: todos irmãos.
Pede o diálogo entre religiões como tema de fraternidade, reclama solidariedade, chama católicos e não católicos os países (os estados) e as forças sociais para a transformação do mundo de modo a abrir-lhe dimensão que seja de facto humana.
A encíclica, naturalmente, condena a guerra, mas também o desinteresse plos migrantes e refugiados, o abandono dos velhos e de tanta mais gente.
Esta Encíclica Fratelli Tutti, em 8 capítulos – com 287 pontos é, com linguagem simples, mas forte e direta a mais política das 3 deste Papa.
Francisco insiste que a política não está ao serviço da economia, reivindica que a ONU se torne mesmo um verdadeiro exercicio planetário de democracia em que não haja privilegiados com direito de veto – e de bloqueio.
Reclama o fim de muros que exasperam.
É, em suma, um chamanento geral à fraternidade humana, capaz de superar distâncias - pela origem, cor, nacionalidade ou religião.