A professora de português e inglês na Austrália, Paula Amaral, de 36 anos, descobriu que tinha câncer de mama, hormônio receptor positivo em estágio inicial, em janeiro de 2020.
Resumo da reportagem
- Outubro é o mês da conscientização do câncer de mama
- Número de diagnósticos de câncer de mama caiu durante a pandemia do coronavírus na Austrália. País registrou uma queda de 150 mil mamogramas para detecção precoce de janeiro a junho 2020.
- Paula Amaral, professora na Austrália, fez tratamento durante a pandemia da Covid em Melbourne e compartilha sua experiência e os desafios de se comunicar com médicos em uma segunda língua
Foi uma supresa, segundo Paula, até para a médica especialista que pediu a biópsia, ser informada que o pequeno caroço que ela tinha sentido no seio, era mesmo câncer.
Primeira coisa que eu perguntei para a médica era se eu ia morrer, ‘eu vou morrer disso?’, e ela disse ‘não’
Paula lembra que em seguida a médica listou o tratamento protocolar, cirurgia (lumpectomia ou mastectomia), quimioterapia e radioterapia. “Ela falava mas eu não conseguia ouvir mais nada, parei na palavra ‘câncer’. Não entendia mais nada, ainda bem que meu marido estava lá comigo e registrou tudo,” recorda.
A primeira reação foi avisar e tentar acalmar a família no Brasil, “falei com minha mãe, minha família, eu não queria ficar guardando aquilo para mim, eu disse ‘eu não estou doente, é algo que está no meu corpo e que tem que ser retirado’”
Como a radioterapia no The Afred Hospital em Melbourne ocorreu durante a pandemia, os cuidados com as muitas visitas ao hospital redobraram. “Quando tudo começou a fechar, ninguém sabia de muita coisa, se eu desse um espirro no hospital as pessoas já perguntavam o que era, se eu tinha sintomas de gripe.
“Como eu já estava vivendo aquela expectativa, o trauma, uma das doenças mais temidas do mundo, talvez pegar a covid, ali para mim não era nada. Na minha cabeça a Covid não iria fazer nada de mal comigo.”
Paula recorda que as pessoas à sua volta reclamavam muito das medidas severas de restrições impostas pelo governo australiano.
“Eu não reclamava que não podia sair, ou ver os amigos, porque eu pensava, eu estou viva, por mais alarmante que fosse a covid, não era tão alarmante quanto o que eu estava passando.”
Paula conta que além de enfrentar o tratamento, a comunicação com os médicos e cirurgiões plásticos foi um desafio à parte.
“Comecei a estudar o vocabulário médico, tinha termos que eu não conhecia nem em português, eu era completamente leiga, eu fazia umas perguntas que nem sei se a médica entendia. Me deram um guia, um livro e eu estudei muito aquilo para saber o que eu tinha que perguntar na próxima visita. Muita coisa eu deixei passar ainda bem que meu marido pegava tudo, tinha coisas que eu realmente ‘não ouvia’, era uma tensão tão grande que eu ficava presa à palavra, eu preferiria ter falado em português.”
Paula vive hoje em Newcastle, em New South Wales, onde continua o monitoramento pós tratamento. O projeto-sonho que tinha sido atrasado pelo câncer de mama virou realidade.
Paula fundou a Comunidade Bilíngue Infantil e mantém a página Tia Paula Explica no instagram, que conta com mais de 3 mil seguidores e onde ela ensina alfabetização tanto em inglês como em português (para filhos de pais da falantes da língua portuguesa na Austrália e no mundo).
Apesar das preocupações que tem sobre o seu futuro, ela diz que decidiu viver um dia de cada vez e manda um recado para as mulheres e homens. “Não espere outubro chegar para cuidar de você, faça a sua mamografia. Não espere outubro chegar para cuidar da sua saúde, cuide de você todos os dias.”