Portugal a 5 semanas das eleições: estabilidade financeira mas políticos que não se entendem

Portugal's parliament

Parlamento português Source: AP

Onze anos depois da saída dos gestores internacionais da troika (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Europeu) que puseram ordem nas contas de Portugal com mais martelo do que bisturi, Portugal surge, juntamente com Espanha, como país de referência na gestão pública na União Europeia. Portugal escapa à maior parte dos problemas internos resultantes da guerra na Ucrânia.


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Não tem problemas com o abastecimento energético. Produz, de fonte renovável, a maior parte da energia que consome. Depende do mercado externo para as gasolinas e gasóleos, mas sempre com abastecimento diversificado e assegurado.

Portugal tem saldo orçamental positivo (muito graças ao turismo), está em quase pleno emprego (o país precisa mesmo de mão de obra migrante para satisfazer muitas das necessidades), não há problemas sérios de segurança.

Há crise séria na habitação (é um efeito negativo do turismo: as rendas disparam constantemente, prolifera o aluguer a estrangeiros) e a saúde, sendo práticamente gratuita para quem precisa, sofre de carência de médicos em várias especialidades (são tentados por salários melhores no estrangeiro ou em serviços privados de saúde)

Mas apesar de Portugal partilhar com Espanha o mais tranquilo e positivo quadro económico, financeiro e social na Europa, vive em contínua instabilidade política.

Durante quase meio século, após a revolução democrática de 25 de Abril de 1974, a paisagem política foi sempre dominada por 2 partidos: o PS, de centro-esquerda, e o PSD, de centro-direita. Um ou outro destes partidos lideraram sempre o governo de Portugal.

Em 2019 surgiu um partido que está a romper os anteriores equilíbrios e a introduzir tensão permanente no debate político: é o Chega, liderado pelo hiperativo André Ventura, com ideologia nacional-populista e discurso de direita ultra que classifica todos os partidos tradicionais de agentes da corrupção.

O Chega elegeu um deputado (André Ventura) em 2019, com 1,29% do total de votos no país.

Nas eleições de 2022 passou para 12 deputados, com 7,18% dos votos.

Em 2024, disparou para 50 dos 230 deputados no parlamento português, ao receber 18% dos votos.

Todos os partidos fazem “cordão sanitário” ao Chega – nenhum faz acordos com esta direita ultra, acusada de xenófoba.

A consequência é o enfraquecimento dos partidos tradicionais ao centro e as crises poíticas constantes como a que leva agora, em 18 de maio, à terceira eleição no período de 3 anos.

O resultado é incerto. Tanto pode haver continuidade da liderança PSD que governou os últimos 11 meses, como o regresso ao PS que liderou os anteriores oito anos.

O PS tem o mérito de, com os ministros das Finanças Mário Centeno e Fernando Medina, ter instalado o saldo positivo, de modo continuado, nas contas públicas.

Em 2023,Centeno e Medina conseguiram reduzir a dívida pública para menos de 100% e alcançaram um excedente orçamental histórico, o maior desde a queda da ditadura em 1974. A prática foi continuada neste último ano pelo PSD Joaquim Sarmento.

Portugal e Irlanda são os únicos membros do antigo clube PIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha) que reduziram os seus níveis de dívida pública abaixo dos níveis anteriores à Grande Recessão de 2008.

A economia portuguesa vive um momento áureo graças às exportações, com o turismo a bater recordes. 2023 foi o melhor ano da história, com mais de 30 milhões de visitantes e 25 mil milhões de euros de receitas.

Números ainda melhores em 2024. O desemprego continua num nível baixo, com uma taxa de 6,5% no último ano. E a inflação abrandou mais rapidamente do que em países como a Alemanha ou a França.

Por outro lado, já ficou notado,o país sofre de uma grave crise imobiliária, com preços exorbitantes fora do alcance dos baixos salários de Portugal, onde a remuneração média mensal não passa dos 1600€ - em comparação com os 2.128€ em Espanha.

A intervenção internacional em 2011 salvou o país da bancarrota com um resgate de 78 mil milhões de euros (o terceiro pedido em meio século de democracia), mas exigiu medidas que arruinaram a vida de muitas pessoas que perderam as suas casas e os seus empregos. Nos três anos do programa de ajustamento (2011-14), mais de 330.000 postos de trabalho foram destruídos e 90.000 empresas desapareceram.

O desemprego aumentou entre os jovens, atingindo os 42%. A única saída que muitos encontraram foi o antigo caminho da emigração. Mas enquanto durante a ditadura saíram os trabalhadores com pouca formação, no século XXI, saíram os estudantes universitários com competências linguísticas e profissionais qualificados.

Uma perda que é, em muitos casos, irreversível para o país que as formou e que resultou num terramoto demográfico, moldando a economia e a sociedade de hoje.

Mas, mesmo assim, a economia funciona, a sociedade, apesar de com carências, está estabilizada (é facto que há ameaças de pobreza sobre 5 a 10% da população).

Mas na política, todos estão zangados.

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