O espanto nas fotografias de Doisneau

Robert Doisneau

Retrato do fotógrafo Robert Doisneau em 1992. Credit: Lily FRANEY/Gamma-Rapho via Getty Images

Robert Doisneau nunca – ao longo de 62 anos a fotografar (dos 20 aos 82) deitou fora uma película. Guardou tudo numa parte da moradia que comprou em Montrouge, nos arredores de Paris. E esse tudo são mais de 450 mil fotografias. 400 delas estão agora em exposição no Museu Maillol, em Paris.


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É a preto e branco uma das mais celebradas fotografias. Um retrato do amor que corresponde à ideia de Paris como cidade de romance e de amantes.

"Le Basier de L' Hotel de Ville". Aquele beijo abraçado entre Jacques, 23 anos e Françoise, 20, no passeio das esplanadas frente à fachada do imponente palácio-castelo que é sede da câmara municipal de Paris

Apesar de nos parecer um instantâneo – captado no acaso de um belo momento entre um par apaixonado, de facto - é uma encenação. O fotografo, tinha então 38 anos e contratou dois atores que conhecia para uma sessão de fotografias num lugar simbólico de Paris – numa época de recomeço - depois dos inferno da guerra e da ocupação nazi.
Exhibition 'Doisneau. Instants Donnes' at Maillol Museum in Paris
'O Beijo do Hotel de Ville', do fotógrafo Robert Doisneau, na exposição 'Doisneau. Instants donnes' no museu Maillol, em Paris. Source: AAP / TERESA SUAREZ/EPA
Esta fotografia fez parte de uma série encomendada pela revista Life – mostrar a vida em Paris cinco anos depois da guerra.

O fotógrafo já então era notado. Mas a grande celebridade como fotógrafo, humanista, mestre a captar a densidade de cada fotografado – de Picasso a Brigitte Bardot ou Maria Calla, dos meninos de rua nas periferias da capital francesa – à dignidade no rosto dos mineiros a escavar lá nas entranhas da terra - só viria depois.

O nome dele – Robert Doisneau. Viveu muito do século 20 – 82 anos. De 1912 a 1994.

Ainda miúdo, foi encaminhado para uma escola técnica como litogravador – e foi trabalhar para uma oficina. Mas a aspiração dele – era a de ser ele a captar as imagens com uma câmara, a rolleiflex ou a leica – as que sempre escolheu. E foi o que conseguiu em mais de 60 dos 82 anos de vida.

Não quis ser repórter de guerra nem fotógrafo dos horrores do mundo como o contemporâneo Robert Capa – esteve mais próximo de outro fundador da agência Magnum, Henri Cartier Bresson, que via na fotografia uma expressão avançada da arte da pintura.

Robert Doisneau – repetiu que procurou sempre o encanto. A imagem que é captada num acaso mesmo que encenado – e que perdura – e que conserva o aroma mesmo passado muito tempo. Doisneau acrescenta mesmo -que a beleza de uma fotografia, aparentemente espontânea,– resulta quase sempre de árduo trabalho e muita preparação.

Ele sabia cultivar a arte do tempo – a de esperar – passava hora a fio numa esplanada ou numa esquina – à espera de captar um instante que valesse.

Robert Doisneau, no catálogo para uma retrospetiva nos anos 80, escreveu que uma boa fotografia é aquela que envelhece bem. E o caso deste celebrado beijo do Hotel de Ville – fez best-seller nos postais de Paris.

Ou o Picasso com a camisola às riscas estilo marinheiro. Ou os tantos rostos e poses – as quatro cabeleireiras na esplanada da brasserie ou os miúdos à porta da escola.

Doisneau – ganhou a etiqueta de poeta a captar instantes humanos puros – mesmo que encenados – para ele, fotografar era capturar em películas fragmentos da vida – para que o futuro entendesse aquele tempo vivido.

Encantos possíveis na vida a partir de episódios do quotidiano. Foi a – será de dizer – utopia concretizada por um artista da fotografia.

Robert Doisneau, apesar de te apanhado a 2ª grande guerra e até nos anos 30 o tempo da Grande Depressão – embora aí ele ainda não estivesse totalmente dedeicado à fotografia.

Robert Doisneau nunca – ao longo de 62 anos a fotografar (dos 20 aos 82) deitou fora uma película. Guardou tudo numa parte da moradia que comprou em Montrouge, nos arredores de Paris.

E esse tudo são mais de 450 mil fotografias que estão guardadas nessa espécie de caverna de ali-babá que é a ampla câmara fria onde ass duas filhas de Doisneau, Anette e Francine, se teem dedicado a tratar esse extraordinário arquivo – aliás protegido por uma porta blindada.

São elas as duas filhas – as comissárias de uma exposição – retrospetiva Doisneau – abriu agora e vai até outubro no , em Paris – são 400 das 450 mil fotografias – tema central – o mundo real a partir do olhar de um sonhador humanista – para quem a dignidade das pessoas era a bússola.

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