É a preto e branco uma das mais celebradas fotografias. Um retrato do amor que corresponde à ideia de Paris como cidade de romance e de amantes.
"Le Basier de L' Hotel de Ville". Aquele beijo abraçado entre Jacques, 23 anos e Françoise, 20, no passeio das esplanadas frente à fachada do imponente palácio-castelo que é sede da câmara municipal de Paris
Apesar de nos parecer um instantâneo – captado no acaso de um belo momento entre um par apaixonado, de facto - é uma encenação. O fotografo, tinha então 38 anos e contratou dois atores que conhecia para uma sessão de fotografias num lugar simbólico de Paris – numa época de recomeço - depois dos inferno da guerra e da ocupação nazi.

'O Beijo do Hotel de Ville', do fotógrafo Robert Doisneau, na exposição 'Doisneau. Instants donnes' no museu Maillol, em Paris. Source: AAP / TERESA SUAREZ/EPA
O fotógrafo já então era notado. Mas a grande celebridade como fotógrafo, humanista, mestre a captar a densidade de cada fotografado – de Picasso a Brigitte Bardot ou Maria Calla, dos meninos de rua nas periferias da capital francesa – à dignidade no rosto dos mineiros a escavar lá nas entranhas da terra - só viria depois.
O nome dele – Robert Doisneau. Viveu muito do século 20 – 82 anos. De 1912 a 1994.
Ainda miúdo, foi encaminhado para uma escola técnica como litogravador – e foi trabalhar para uma oficina. Mas a aspiração dele – era a de ser ele a captar as imagens com uma câmara, a rolleiflex ou a leica – as que sempre escolheu. E foi o que conseguiu em mais de 60 dos 82 anos de vida.
Não quis ser repórter de guerra nem fotógrafo dos horrores do mundo como o contemporâneo Robert Capa – esteve mais próximo de outro fundador da agência Magnum, Henri Cartier Bresson, que via na fotografia uma expressão avançada da arte da pintura.
Robert Doisneau – repetiu que procurou sempre o encanto. A imagem que é captada num acaso mesmo que encenado – e que perdura – e que conserva o aroma mesmo passado muito tempo. Doisneau acrescenta mesmo -que a beleza de uma fotografia, aparentemente espontânea,– resulta quase sempre de árduo trabalho e muita preparação.
Ele sabia cultivar a arte do tempo – a de esperar – passava hora a fio numa esplanada ou numa esquina – à espera de captar um instante que valesse.
Robert Doisneau, no catálogo para uma retrospetiva nos anos 80, escreveu que uma boa fotografia é aquela que envelhece bem. E o caso deste celebrado beijo do Hotel de Ville – fez best-seller nos postais de Paris.
Ou o Picasso com a camisola às riscas estilo marinheiro. Ou os tantos rostos e poses – as quatro cabeleireiras na esplanada da brasserie ou os miúdos à porta da escola.
Doisneau – ganhou a etiqueta de poeta a captar instantes humanos puros – mesmo que encenados – para ele, fotografar era capturar em películas fragmentos da vida – para que o futuro entendesse aquele tempo vivido.
Encantos possíveis na vida a partir de episódios do quotidiano. Foi a – será de dizer – utopia concretizada por um artista da fotografia.
Robert Doisneau, apesar de te apanhado a 2ª grande guerra e até nos anos 30 o tempo da Grande Depressão – embora aí ele ainda não estivesse totalmente dedeicado à fotografia.
Robert Doisneau nunca – ao longo de 62 anos a fotografar (dos 20 aos 82) deitou fora uma película. Guardou tudo numa parte da moradia que comprou em Montrouge, nos arredores de Paris.
E esse tudo são mais de 450 mil fotografias que estão guardadas nessa espécie de caverna de ali-babá que é a ampla câmara fria onde ass duas filhas de Doisneau, Anette e Francine, se teem dedicado a tratar esse extraordinário arquivo – aliás protegido por uma porta blindada.
São elas as duas filhas – as comissárias de uma exposição – retrospetiva Doisneau – abriu agora e vai até outubro no , em Paris – são 400 das 450 mil fotografias – tema central – o mundo real a partir do olhar de um sonhador humanista – para quem a dignidade das pessoas era a bússola.
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